Luiz, assíduo leitor deste jornal, nos informou que seu vizinho era um cavalo. A princípio, achamos que fosse excesso de indelicadeza de sua parte. Ora, convenhamos, chamar um vizinho de cavalo não faz parte das boas práticas de convivência urbana. Pedimos então maiores explicações sobre as razões do adjetivo. Luiz, um sujeito educado, nos convidou então, a conhecer o seu ilustre vizinho. Constatamos que não se tratava de um tratamento pejorativo. De fato, o ilustre morador, que todas as manhãs sai á janela para apreciar o movimento era um cavalo em pessoa, literalmente falando. Na casa onde mora tem um quarto exclusivo, onde dorme e se alimenta. Fizemos questão de fotografá-lo em seus momentos de descontração.
Convém alertar o incauto leitor sobre os incontornáveis riscos e armadilhas que circundam a narrativa que se segue: de tomar fatos ao pé da letra ou ainda de relegá-la ao puro e simples campo do exotismo ou folclore. Há que se desarmar ainda das convicções e julgamentos morais que emolduram com o verniz da hipocrisia os comportamentos e condutas tidos como aceitáveis ou recomendáveis pelas normas sociais. Ainda que soe simplória, absurda ou inverossímil a história que vamos contar, poderíamos citar dezenas de exemplos do dia a dia que atestam ser muito mais comum do que parece a simbiótica relação entre o amor e os negócios, entre as relações pessoais e os interesses ditados pelas leis de mercado.
O absurdo e o inolvidável caminham com desenvoltura tanto na ficção como na realidade, e entre uma e outra, a distância que as separa não vai além de uma braçada.
Isto posto, sigamos em frente, com destemor e espíritos desarmados.
Há pouco mais de 20 anos, por ali, nas cercanias do distrito de Vila Funchal, um estranho caso começou a circular de boca em boca como notícia de primeira página. Foi contada e re-contada em cada canto de cozinha, sala, esquina ou porta de boteco. Não fossem seus personagens de carne e osso com nome, alcunha, sobre-nome, parentesco ou amizade de uma ou outra vivalma lá do vilarejo, tudo não passaria de ficção ou prosa inventada. Por res-peito e dever de ofício nos privamos de identificar os personagens em questão, com seus nomes de batismo. Para tecer os fios desta trama do destino usaremos, portanto, nomes fictícios.
Precavendo-se das som-bras da dúvida e de olhares dos incrédulos e desconfiados, que poderiam taxar de pura invencionice a nossa história, tivemos o cuidado de nos amparar nas fontes fidedignas de uma testemunha ocular. Entrevistamos o "Batista"( aquele lá do "Bar do Batista", no Bairro Boa Esperança): um conterrâneo e contemporâneo, que na mesma época do acontecido residia lá na vila do Funchal. Ele nos revelou em detalhes o desenrolar dos fatos, enredados em não mais que em um só, fortuito e inusitado dia. Depreende-se de seu depoimento que se tratava de pessoas simples, sem um pingo de maldade no coração, tendo por isso, tudo transcorrido com a mais das inocentes naturalidade.
Então é verdade que o "Tõe Biboca" catirou a própria mulher? - perguntei de cá do balcão do Bar do Batista. Não foi preciso mais que um pulo pra ele arrancar do fundo da memória as cenas e imagens que no seguido passou a me contar:
"Nessa época eu tocava um buteco no "Gordura" e eles eram da freguesia, um, inclusive, era sobrinho. O Zabilo morava com a mulher lá na Fragata e o Tõe, na beira do Indaiá. Os dois eram primo primeiro. Um dia o Tõe, que gostava de uma cachaça, foi, montado na sua égua, visitar o primo, lá na Fragata. Chegando na casa, prosa vai, prosa vem e o Tõe resolveu fazer uma proposta esquisita pro Zabilo: catirar a mulher e em troca de sua égua parida. O Zabilo que tava precisado de um animal pra serventia acabou se interessando na proposta, mas colocou uma condição: "eu catiro a minha mulher mas o menino tem que ir junto" (o menino filho do casal.) Conversa vai, conversa vem, e o negócio foi fechado. tudo nos conformes, e a muié do Zabilo, que até achou tudo meio engraçado, não discordou, pouco se incomodando com a troca de marido. Ela então pegou o filho e seguiu viagem para a nova casa lá na beira do Indaiá. Eu fiquei sabendo do acontecido no mesmo dia: Como o "Gordura" era caminho, eles passaram, os três, no meu buteco e o Tõe me contou da catira que havia acabado de fazer. Essa catira aconteceu na época doa URV, você se lembra? foi em 1992, 93...
Eles ficaram bastante anos juntos. O menino foi criado como se fosse filho do Tõe. Tocavam a vida como uma família normal, na maior naturalidade. Já os moradores da vila achavam tudo aquilo muito engraçado, e não deixavam de fazer uma piadinha quando os três chegavam juntos. Uns tres anos depois ele resolveu devolver a mulher com o menino: " Vou te devolver a mulher". Alguns anos depois o Tõe biboca morreu afogado ao tentar atravessar o rio Confusão durante uma cheia.
"Ali no Gordura", vai o Batista terminando a conversa para atender um freguês, "tem muito caso que a pessoa conta e ninguém acredita, como aquele do duelo no meio da praça e que os dois inimigos acabaram morrendo um com o tiro do outro". Mas essa é uma outra história.
Não foi conversa de pé de ouvido ou em roda de pescadores que tomei noticia daquele estranho costume. Se não fosse fato comprovado pelas dezenas de testemunhos ouvidos e recontados, eu seria o primeiro a desacreditar. Dona Arminda, mulher de fervor e temente aos mandamentos não mentiria só por interesse ou diversão. Ela, por insistência minha, narrou em detalhes a cena daquela arrepiante contenda com a filha dileta do chefe lá de baixo, das profundezas. O embate se deu logo ali, na saída do beco perto do Afonso Pena. E assim ela me resumiu aquele encontro que durou quase uma eternidade: " Ia eu passando com a mala de roupa na cabeça quando vi, a pouco mais de dois ou três passos de distância, dois olhos vermelhos me acuando. Era ela, a peçonhenta, filha da coisa ruim: uma cascavel de metro e meio mais ou menos. O que fazer numa hora dessas? Nada, meu filho!!! Minha sorte foi que passava pelo beco um sujeito de boné com uma capanga de lado. Então gritei baixinho, com a voz engolida pelo medo, socooorro!!!! Daí ele veio chegando, já meio que esbravejado quando da cena presenciada e recomendou: Fica parada Dona Arminda que ela é de veneta. Primeiro, chutou o chocalho dela deixando a bichinha numa raiva só. Depois foi cutucando a cobra, cutuca daqui, cutuca dali, e a cobra se enrolando preparando bote, mas não dava tempo: era ela começar a se enrolar e lá vinha outro cutucão. Ele cutucava, e ela enrolava, e eu lá olhando, mantendo distância. Dai ele me perguntou: é pra matar? Mal consegui balançar a cabeça, dizendo que sim. Daí ele deu um rodopio pelo corpo e num chute só, acertou em cheio na cabeça da desaforada, que saiu catando cavaco ladeira abaixo. Susto passado, me aprontei com a mala de roupa pra seguir beco arriba. Mas primeiro, fui agradecer o filho de Deus, o tal sujeito de boné e embornal. E não é que conhecia o danado: - Uai Maã é ocê?
- Ô dona Arminda, sou eu mesmo.
- Ah menino, ocê trata de tomar cuidado viu, que esse bicho é traiçoeiro.
- Tenho medo não, já tô acostumado. Comigo, Cascavel é no chute.
Muito tempo depois é que fiquei sabendo que vez ou outra o danado exercita o estranho costume de abrir picada em beira de rio pra pescador passar. Quando o mato é ermo ele vai à frente abrindo caminho, arredando ninhos de cobra, de qualquer espécie que seja - jararaca, canina, urutu, e claro, cascavel, a mais comum ali pelas beiradas do Indaiá e do Abaeté. Pescador é um bicho curioso, morre de medo de cobra.
Há 14 meses em operação, o sistema de monitoramento "Olho Vivo" vem imprimindo mudanças substanciais nas operações de combate à criminalidade e, de tabela, promovendo sentimentos de mais segurança por parte da população. A prevenção é uma de suas marcas registradas, e como afirma o comandante da Polícia Militar de São Gotardo, Capitão Sá: "E além desse aspecto operacional nós temos que lembrar a que a função da Polícia militar é a prevenção criminal, evitar que o crime aconteça, e o projeto olho vivo existe simplesmente com essa finalidade."
Na entrevista a seguir o capitão fala de números e estatísticas que comprovam a eficiência deste sistema. Veja:
O projeto olho vivo é uma ferramenta de suma importância na posição de serviços na área da segurança pública. Porque com ele conseguimos monitorar eletronicamente as principais vias, saídas e entradas da cidade. O trân-sito de pessoas e veículos, o centro comercial da cidade, e isso vem muito a auxiliar nas atividades. Então, é uma ferramenta de suma importância . E além desse aspecto operacional nós temos que lembrar a que a função da Polícia militar é a prevenção criminal, evitar que o crime aconteça, e o projeto olho vivo existe simplesmente com essa finalidade. A partir do momento que se monitora eletronicamente através de vídeo as principais rotas, os principais centros comerciais de toda a cidade, a ideia é tornar desfavorável o co-metimento de crimes, ou seja, o infrator vai ver que está sendo monitorado; em tese, vai ficar desmotivado a cometer crime, em contrapartida o cidadão vai se sentir seguro, ele sabe que ali tem uma câmera de vigilância, que se acontecer alguma coisa a polícia vai chegar imediatamente.
Na pratica, dentro de uma ano, até o dia 10 de novembro, nós tivemos 25% de redução de crimes violentos como roubos, homicídios, estupro, e 38% dos furtos, então, a redução criminal é notória.
Eu devo creditar isso somente ao Olho vivo? Não. Tem as ações especificas da Polícia militar. Nós temos uma taxa de prisão de certa de 70% dos indivíduos que cometem crimes violentos. Tem a parceria junto a Polícia civil, o Ministério público. É um conjunto de fatores, e toda uma gestão, mas eu não tenho dúvida que o Olho vivo foi uma ferramenta que contribuiu enormemente pra esse resultado.
Sim, em crimes violentos a 216ª Cia, que engloba são Gotardo e outros municípios, a média é de prisão de 70 % doa autores de crimes violentos, isso é uma taxa altíssima se comparada à media nacional, e ainda tem vários outros que são presos em virtude dos mandados que são expedidos pela justiça. Dos crimes de homicídio, só um dos autores que nós não prendemos, todos os outros foram presos. E esse um está foragido, que não é de Minas Gerais. Ele está com mandado de prisão em aberto, plenamente identificado, porém, fugiu, os demais, todos estão presos. Se não em flagrante de delito em virtude mandato expedido da justiça.
Sem duvida, a pessoa foi assaltada em local que não tem câmera do Olho vivo, certo? A predominância de roubos e crimes aqui em São Gotardo é de transeunte, existe outros roubos? Existe, mas a predominância é transeunte. Momentos antes do crime o autor e a vítima haviam passado diante de uma câmera; via de regra isso ajuda demais na identificação, a vítima reconhece o autor pela vestimenta, estatura, porte físico... A maioria dos crimes são cometidos por uma minoria de pessoas, então existe reincidência.
Ao longo do ano inteiro fomos extraindo imagens das câmeras do Olho vivo para identificação de crimes e tem surtido muito efeito.
Outra situação importante é a falsa notícia de crime. Uma senhora havia dito que foi roubada na praça Sagrado Coração às 10 horas da manhã. Ao verificarmos as gravações da câmera do olho vivo mostramos ela passando na praça e ninguém abordando ela. A câmera do olho vivo está ali também para mostrar que não aconteceu um crime. Até evita que inocentes sejam presos, evita que militares registrem ações que de fato não acorreram.
Temos aqui instalado um sistema de monitoramento ligado ao governo que cadastra placas de veículos roubados ou que nós monitoramos. Exemplo: tem um traficante, um assaltante que eu sei que dirige um determinado veículo; eu sei que não tem queixa de furto ou roubo, mas quando ele entra na cidade o sistema gera um alerta e a gente já fica atento. Vários veículos já foram recuperados, veículos roubados que entraram no perímetro urbano e nós fizemos a prisão do autor por receptação.
É o suficiente, está dentro das necessidades. Para efeito comparativo, Unaí, onde trabalhei, são 11 câmeras, uma cidade de 82 mil habitantes; Patos de Minas até outro dia tinha 16 câmeras, aqui nós temos 24, então é o suficiente, e um detalhe: câmeras de altíssima qualidade de imagens, muito nítidas, inclusive no período noturno. A qualidade e logística do Olho vivo de São Gotardo é excelente.
Não. A finalidade do Olho vivo é a prevenção criminal. A partir do momento que eu monitoro uma via pública eu estou lidando com a imagem de outras pessoas, e que têm o direito à sua preservação, então, um acidente de trânsito não é um crime se não envolver embriaguez, inabilitação, lesões corporais. Vamos dizer que seja um simples acidente com danos materiais, isso é coisa pra se resolver na esfera civil ou entre as partes. O Olho vivo não se presta a esse papel, até mesmo porque a finalidade dele envolve a segurança pública, envolve o direito de imagem de outras pessoas. Quando é que disponibilizamos para sociedade as imagens do olho vivo? Só através de uma decisão judicial que nós liberamos.
Se for pra instruir um inquérito da Polícia civil, eu vou liberar, lógico. é finalidade de segurança pública. A Promotoria às vezes me solicita imagens do olho vivo, então ok, eles estão instruindo um processo, é diferente. Agora a partir do cidadão, não pode, a não ser que ele tenha autorização judicial. Se ele precisa da imagem, deve entra com uma petição junto ao beneficiado que vai ser disponibilizado. Essa é uma preocupação muito evidente: é pra atender o interesse da segurança pública, relacionado à segurança pública e não a um particular, até mesmo porque envolve direito de imagem de outras pessoas.
Perto de concluir seu segundo mandato consecutivo, Seiji Eduardo Sekita já disse a que veio. Atravessou águas turvas nestes recentes anos de recessão(2015 a 2018), de vacas magras. O rigorismo, marca permanente no seu 'jeito de governar' o ajudou a se equilibrar na corda bamba. Nesta passagem para a reta final de seu governo já é possível vislumbrar o seu desfecho.
Já se vão três anos desde sua última entrevista ao Jornal Daqui. Rompendo este hiato o prefeito de São Gotardo falou à nossa reportagem. Como era de se esperar, faz um apanhado de obras realizadas e de outras em andamento. Destaque-se ainda na presente entrevista, um projeto em curso, que pelo ineditismo pode servir de modelo: a implantação de um loteamento nos moldes de um programa social, onde a prefeitura compra o terreno e as famílias beneficiadas pagam a infraestrutura.
Veja a entrevista.
Em 2018 /2019 nós passamos por algumas dificuldades financeiras, então nós tivemos a participação de várias empresas colaborando nos custos de manutenção. Creio que a partir desse ano de 2020, com a normalização da receita - o estado está devolvendo aquilo que deve - a Prefeitura vai poder assumir todas as despesas com a manutenção do Olho vivo. Foi um período muito difícil (2018 /2019), mas já passamos por essa turbulência. Conseguimos passar esta fase, mas com muito rigor nas despesas, mas felizmente, estamos passando essa turbulência.
É a parte de manutenção dos equipamentos, inclusive, já estamos vendo com a diretoria do COMSEP a questão do pagamento do pessoal. Temos consciência que é responsabilidade do município garantir a total manutenção deste sistema.
As obras de reforma e ampliação da Santa Casa estão sendo feitos totalmente com recursos da comunidade.
Exatamente isso aí. São Gotardo já atende praticamente toda essa micro região. O próprio Estado admite que São Gotardo pode ser polo de nossa micro-região. Conclu-indo esse processo, vamos ter mais recursos pra implantar novos equipamentos, modernizar nosso atendimento. Hoje nós atendemos muitos acidentados perto de campos altos na 262, atendemos ali próximo a Rio Paranaíba, então, nós já atendemos a região, pela própria posição geográfica. Com o reconhecimento do Estado, tornando legalmente a nossa Micro-região, nós vamos poder ter mais recursos, comprando equipamentos mais modernos que possa atender a altura nossa população.
Exatamente; no próximo ano é para ser implantado esse projeto.
É um exemplo do que pode ser feito. Poderemos também adquirir um equipamento de Tomografia. Mas onde serão aplicados os recursos ainda vai depender de estudos da Secretaria Municipal de Saúde. Mas de qualquer forma, é realmente uma ampliação de recurso muito grande quando nos tornarmos polo dessa micro-região.
As obras de reforma e ampliação da Santa Casa estão sendo feitos totalmente com recursos da comunidade. Vamos ter ampliação de salas, a parte da lavanderia, do refeitório. Toda a reforma do prédio está sendo concluída com recursos da comunidade . Vai ampliar e muito também o área de internamento, o número de leitos.
Nos países desenvolvidos as estradas rurais são todas asfaltadas, mas isso é até um sonho. Mas se a gente não começar um trabalho, ele nunca se concretiza. Então você precisa não só sonhar mais começar a realizar. Hoje já concluímos praticamente 3 km de pavimentação, do trevo da Coopadap até o final da agrovila. Já temos ai uma grande trecho até Abaete dos Venâncios, e que deve chegar até a comunidade de Abaete dos Venâncios até o ano que vem. O trecho que liga a BR 354 até a comunidade Cerca Velha será pavimentado até o ano que vem. Outro trecho de estrada rural em vias de conclusão passa ao lado do bairro Liberdade até o 'morro do Viquinho', e também o morro próximo ao Rio Funchal, indo pra comunidades de Serrinha, Cruzeiro e Senhora da Serra, já está concluído toda aquela parte mais íngreme. E o quarto trecho, indo pra Vila Funchal, também vamos estar melhorando com asfalto. Isso dá condições pro produtor implantar novos projetos na agricultura, na pecuária, plantio...
O primeiro desafio é o loteamento da família Sr. Juvenal, que não tem infraestrutura. Estamos investindo em projetos de iluminação, drenagem e asfalto, para que possa dar melhoria nas condições daquela população que já reside lá. Vamos também implantar uma escola pra atender mais de 300 crianças, com quadra coberta, etc. Até o ano que vem algumas salas já vão estar liberadas para pessoal começar a trabalhar.
Sim. Nós precisamos do terreno, então é meta nossa já negociarmos a compra esse fim de ano, pagando parte agora e uma parte no ano que vem. Já deve ser concretizado o negócio esse ano ainda. Trata-se de um terreno para implantação de um projeto de habitação, e vai ser passado para a nossa população com um custo muito baixo. Enquanto um lote na cidade custa acima de R$50 mil reais, a família que for contemplada vai pagar em torno de R$10 mil reais, apenas para bancar os custos a infraestrutura. O lote seria praticamente isento de pagamento. Este projeto, que inclui a compra do terreno, vai dar condições de distribuir cerca de 800 lotes às famílias que não têm casa própria.
São Gotardo pagou caro por esses erros do passado. Nós queremos um futuro para nossa cidade onde as famílias possam morar realmente de maneira decente, com toda infraestrutura necessária, drenagem da água pluvial, asfalto, iluminação, área verde... para que realmente tenhamos um bairro a altura da nossa população. Como está sendo negociado ainda a localização, estamos fazendo a avaliação do terreno através de uma comissão de avaliadores e corretores. Só após esta fase é que nós vamos entrar em negociação. Nós não podemos entrar em nenhuma negociação com nenhum empresário de propriedade sem que a gente tenha um valor que juridicamente ou perante a lei possa ter respaldo.
Nosso conterrâneo Dr. Pedro Bernardes, desembargador do TJMG, foi homenageado pela Câmara municipal de Belo Horizonte com a designação de uma rua da capital mineira com o nome de sua mãe, Adelina Maria de Oliveira. O pai de Dr. Pedro já havia recebido igual registro ao dar nome a uma rua aqui em São Gotardo.
Por mais de um século perpetuou-se ,as custas do imaginário popular e de interpretações sem qualquer base documental, a real origem do nome do município. Aqui e ali insinuava-se que o nome da cidade mantinha estreitas relações, na forma de homenagem e reconhecimento a um pretenso "fundador" da vila instalada às margens do hoje denominado Córrego Confusão, Joaquim Gotardo de Lima.
Nos dados registrados no histórico do município no site do IBGE, por exemplo, alude-se: "A vila de São Sebastião do Pouso Alegre teve seu topônimo mudado em 27 de agosto de 1885, para vila de São Gotardo, em memória de Joaquim Gotardo de Lima, considerado o fundador da cidade que, ao que parece, não viveu no lugar pelo resto de sua vida. Não se tem notícia de terem ficado, no município descendentes dele."
De fato, como afirma o mesmo texto, a primeira família a se instalar por aqui foi os Valadares: " Nos primórdios do século XIX, Antônio Valadares e Domingos Pereira Caldas, saindo da região de Pitangui em busca de terras de cultura, fixaram-se às bordas da Mata da Corda. O primeiro estabeleceu-se próximo ao atual "Córrego Confusão" e o segundo aposseou-se de terras a quatro léguas de distância do primeiro, no lugar hoje denominado "Campos Domingos Pereira".
Desmentindo a atribuição do nome do município à duvidosa figura de Joaquim Gotardo, o documento oficial, que agora torna-se público e com exclusividade pelo Jornal Daqui, confirma a seguinte versão oficial, também registrada nos anais de nossa história: No dia 27 de agosto de 1885 o padre-deputado Miguel Kerdole conseguiu alterar, no Con-gresso de Ouro Preto ( Lei nº 3.300), o nome da então Vila de São Sebastião do Pouso Alegre para a denominação atual. O topônimo, como se reza a Lei aprovada, foi inspirado no homônimo de um santo alemão, o Saint Gothhard.
Não se pode afirmar com certeza, mas é possível aludir que a estatueta do famoso santo alemão (Saint Gothhard) frequentava o oratório imperial. É presumível a suposição se levamos em conta que a ascendência da imperatriz Leopoldina ( Austríaca (império Austro-húngaro) e esposa de D. Pedro I), se origina da mesma região onde nasceu e viveu Gothhard de Hildesheim, o santo que deu nome ao nosso município. O nome da im-peratriz é inclusive citado na carta endereçada ao padre-deputado Miguel Kerdole.
A referida carta (foto) é confirmação cabal de que o nome de nossa cidade foi inicialmente sugerido pelo Capitão Mor Joaquim Domingos Pereira, que na é-poca, residia no vilarejo de Perobas, localizado em região próxima ao distrito de Vila Funchal. Este documento joga por terra qualquer alusão a Joaquim Gotardo de Lima.
O Fac-simile da carta histórica (foto) foi reproduzido ( e registrado em cartório) a partir do original encontrado nos arquivos do museu de Ouro Preto. Sua "descoberta" é fruto do esforço incansável do pesquisador e São Gotardense Humberto Pereira.
Mariana, no dia 12 de janeiro do ano de 1884 de Nosso Senhor Jesus Cristo
Meu grande amigo, sua benção, piedoso Padre Miguel Dias Kerdole.
Como já nos falamos antes, eu em meus pensamentos íntimos e minha família estando em Perobas, sinto-me só. Tenho enorme vontade de me juntar aos meus. Mas meu imperador manda-me a conter em São Salvador, pois o nosso imperador, confiando em mim mais uma missão militar, estarei a frente de quatro guarnições. Preze por seu amigo e confidente.
Eu venho a pedir ao senhor deputado provinciano das Minas Gerais, que o projeto de renomeação do povoado de São Sebastião do Pouso Allegre, deveria ser para homenagear a minha santa devoção de nossa benfeitora Imperatriz Leopoldina do Brasil para o nome de São Gotardo, nosso protetor diante de nosso todo poderoso e misericordioso Jesus Cristo, Como minha volta é indefinida, deixo este pedido onde toda minha família amada reside.
Sem mais delongas, sua santíssima benção e espero que possa atender este pedido do sempre a postos servo de Nossa Majestade.
Capitão Mor, Joaquim Domingos Pereira
Nos primeiros 15 anos desde sua emancipação o comando político/administrativo em São Gotardo estava centrado na figura do presidente da Câmara Municipal. Ele preenchia a um só tempo as funções de Legislador, executor de obras e controlador das finanças públicas. Ainda não existia, até o início da década de 1930, o cargo de prefeito.
No ano de 1934, ao ser promulgada a nova Constituição Brasileira, Getúlio Vargas, que havia liderado o golpe na chamada revolução de 30, é eleito presidente do Brasil. Paralelamente era reimplantada nos estados e municípios a nova ordem constitucional. Registre-se que no hiato entre 1930 e 1933 o governo municipal foi controlado por interventores, nomeados diretamente pelo governador.
Em 1934 foi eleita a nova Câmara Municipal, agora, com poderes para empossar o primeiro prefeito de São Gotardo. O novo título vinha embalado com as cores do getulhismo: o de “Prefeito Discricionário”. Através de votação entre os vereadores foi escolhido para o cargo um jovem farmacêutico, Bento Ferreira dos Santos. A posse do primeiro prefeito coincide assim, com um período crítico de nossa história: A era Vargas - que três anos depois, em 1937, assume sua real natureza ditatorial com a instalação do Estado Novo, o que se estendeu até 1946.
Por ordem e anuência do andar lá de cima Bento Ferreira permaneceu no cargo de prefeito durante todo este período, de 1933 a 1946. Foi o governo mais longevo nestes 100 anos de história. Sua permanência no cargo evidencia, apesar do intervencionismo federal e estadual, as habilidades de um político nato. Ao ser ungido pelos coronéis Frederico Coelho e Antônio Fonte Boa, e por duas vezes sacramentado na Câmara de vereadores( em 1934 e 1937) para ocupar o cargo de prefeito - ainda que biônico - demonstrava uma capacidade inerente de líder e aglutinador das forças representativas do município.
São Gotardo ainda engatinhava às margens do córrego confusão quando Bento Ferreira, recém-formado pela escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, resolveu mudar-se para cá, no ano de 1921. Um ano depois, já estabelecido profissionalmente, casa-se com Maria Guiomar, uma professora, também recém-formada. Ao longo destes primeiros anos na nova terra Bento Ferreira participa ativamente da vida pública do município, principalmente nas áreas de esporte, saúde e comunicação.
Ao longo dos 13 anos de seu governo, o acadêmico e progressista Bento Ferreira dos Santos fincou importantes marcos na construção das bases do jovem município.Listamos abaixo algumas das obras realizadas durante sua gestão:
Em 1947 Bento Ferreira dos Santos é apeado do cargo de prefeito pelas forças políticas locais. Foi uma derrota tão amarga que resolveu mudar-se – melhor dizendo, exilar-se - de São Gotardo com a mulher e seus treze filhos. Em Niterói – RJ assume um cargo público, a convite do governador daquele estado. Nunca mais retornou à cidade que o acolheu e que ajudou a construir. Em 1965 recebeu o título de cidadão honorário. Na cerimônia foi representado por uma de suas filhas.
Bento Ferreira dos Santos não foi um filho bastardo: a terra do confusão foi sua genitora e mãe legítima. Seu auto-exílio ou a pecha de prefeito da ditadura não foram capazes de manchar o legado que nos deixou. Agora, em 2015, no ano de seu centenário, a cidade de São Gotardo tem a oportunidade de reconhecer e reavivar o lustre dos artífices de nossa história. Bento Ferreira dos Santos tem lugar de destaque neste panteão. Ele veio e se foi. Uma espécie de cometa brilhante, mas que permanece eternamente estacionado na rua principal de São Gotardo.
Reunindo autoridades do Poder Judi-ciário, advogados e convidados, foi realizada no salão do Fórum da cidade a solenidade de entrega da medalha desembargador Hélio Costa. A honraria é concedida de dois em dois anos e tem por propósito agraciar pessoas que venham prestando ou tenham prestado relevantes serviços ao Poder Judiciário desta Comarca. A indicação do nome do homenageado é feita por uma comissão especial, formada por representantes do Ministério Público, OAB/MG, Poder Legislativo e Executivo.
Neste ano de 2019 recebeu a honraria o juiz Roberto Troster que por dois anos ocupou o cargo de juiz titular da Comarca. Ele deixou o cargo a cerca de dois meses, sendo transferido para a cidade de Monte Sião.
Nos discursos, ficaram registrados mais que elogios, mas principalmente o reconhecimento pelo empenho e dedicação de Roberto Troster. Para aqueles que o acompanharam de perto sabem de seus valorosos serviços prestados, não só ao Poder Judiciário mas a toda a comunidade de São Gotardo. Ele deixa o posto após participar ativamente dos esforços para concretizar a instalação de uma 2ª Vara na Comarca.
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São Gotardo vem experimentando ao longo do tempo um processo de assimilação e inserção de novas culturas. Como fez a nação brasileira, vamos nos misturando também por aqui. Ainda que lenta e timidamente, destinos se mesclam. Afora conflitos vamos colhendo bons frutos neste caldeirão cultural - evidenciando sua efervescência.
E um bom exemplo é o recente concurso de beleza, onde tivemos a grata surpresa de ver coroada com o título de Miss São Gotardo, uma imigrante do norte, vinda do Maranhão. Lauro Prados, promoter do evento, ressalta a necessidade de normas criteriosas, mas defende com todas as letras a natureza democrática da beleza: "São Gotardo tem uma visibilidade nacional, e por que não sermos receptivos com as pessoas que vem até a nós, até a nossa cidade? No nosso concurso do ano passado 'Miss e Mister beleza negra' a maioria dos candidatos, tanto os homens quanto mulheres, eram imigrantes, mas quem venceu foi uma menina de São Gotardo".
A miss eleita, Micaelly Gomes, 17, reside em São Gotardo há cerca de quatro anos, tempo suficiente pra se sentir em casa. A respeito de sua conquista, Lauro Prados aconselha: " Tem que partir dela, em primeiro lugar, o prazer em carregar o titulo de nossa cidade. Para nós, Sãogotardenses, é o maior orgulho ter uma menina do Maranhão, eleita miss de nossa cidade, e ter não só o orgulho de representar o seu estado, mas de carregar o nome de São Gotardo no peito."
"Eu e São Gotardo temos um vínculo muito forte e é um prazer muito grande morar aqui e poder representá-la. Agora carrego duas terras no meu peito, que é o Maranhão e São Gotardo".
" No ano passado eu consegui meu emprego na Oficina da Moda, foi meu primeiro emprego , Meus pais são trabalhadores rurais".
“Tenho meus planos para o futuro. Temos que estar sempre de cabeça erguida. Meu desejo é me formar em Fisioterapia".
Assim como Micaelly, Rafael encarou pela primeira vez as passarelas, e tirou de letra. Eleito para o posto de Mister, tem um talento revelador, e a coragem necessária para enfrentar o desafio de ser modelo.
"Meu nome é Rafael de Oliveira Chaves, tenho 17 anos, estudo,trabalho. Estou cursando o 1º ano do ensino médio."
"Eu gosto de Agronomia e Educação Física. Estou em dúvida entre essas duas carreiras."
“Nasci em São Gotardo. Eu sempre tive vontade de participar de um concurso assim, ai surgiu a oportunidade e não deixei passar . A experiência nova mesmo foi a passarela, o público. O nervosismo na hora é bem grande, mas na hora é só beber um copo de água e acalmar."