Eu vivi em São Gotardo na infância e, no início da adolescência, sai para o Seminário dos Dominicanos, em Juiz de Fora, indo depois para Belo Horizonte, onde estou desde 1964. Passei a ser um “estudante de fora”. Desde então tenho visão de mundo e ideias fora das trilhas por onde andam a maioria dos familiares e conterrâneos. Uma delas é valorizar pessoas discretas, que passam mais suavemente pela vida e tornam mais leve a vida dos que têm a felicidade de conviver com eles.
Destaco, nesta crônica, o sr. João Olímpio de Resende, o Joanico que eu sempre via como se tivesse acabado de sair do banho. Ressoam ainda nos meus ouvidos as referências elogiosas que a ele faziam sempre meu pai e minha mãe.
Nasceu nas Guaritas e tinha uns 10 irmãos, todos habilidosos o que é uma característica dos Resendes. Adalberto foi o primeiro mecânico de automóveis da nossa cidade, Adolfo, vendedor de joias e contador de piadas e causos, : Alberto era exímio tocador de violão, Catarina foi uma ótima professora, nos preparava em dois meses para o exame de admissão ao ginásio, um vestibular entre o grupo e o ginásio, Heitor teve uma casa de material de construção, em BH, Inocêncio teve um hotel, Joanico tocava gaita muito bem e Jane, sua filha, tocava e ensinava acordeom, José Olímpio (Juca) foi o pai dda Conceição do Dézinho, craque do meio de campo do Sparta, Juvenal era o pai da Iracema, esposa do Téo, pelo que merece meu profundo respeito, Leda e Olegário, que foi taxista em BH e era uma referência para os sangotardenses em BH, Olímpia foi dona da Gráfica Orion, em BH, e Otávio foi um especialista em construir carros de boi.
Pela descrição sintética, vemos o dom para a música e que sempre foram bons comerciantes, o que foi passado, por exemplo, para o Jáder e dona Lea, que também ensinou as artes do bordado a inúmeras jovens.
Um Resende sangotardense foi o pai da aviação
Adolfo queria voar e não sabia como até que teve uma brilhante ideia. Prendeu 6 urubus, deixando-os sem comer por 4 dias, amarrou-os num grande couro de boi, adaptou pequenas varas de pescar sobre cada um deles e, do quintal da fazenda levantou voo até o Salto, de onde retornaria triunfante para o Arraial da Confusão. Quando queria mudar de direção, abaixava a carne até os urubus deste lado. Foi um sucesso pela metade, pois, quase no fim da primeira etapa, um caçador assustado com o estranho bicho voador atirou no tapete voador, derrubou o balaio de carne, atrás do qual voaram os urubus, impedindo a conclusão deste feito memorável, que precisava ser levado ao conhecimento da humanidade.
Quem sabe esta crônica mude os livros de história das invenções. Viva São Gotardo, viva Joanico e seus irmãos!
Luiz Sérgio, 26 de janeiro de 2025 - Com a colaboração do Geninho, do Reinaldo e do Marcinho, meu irmão.