Essa história de “política não se discute” está ficando superada. Todos discutimos política. Meu amigo Márcio Moreira diz que até em casa, com a família, tem política. E ele me demonstrou isso de maneira indiscordável (não dá para discordar).
Veja: você quer pegar o dinheiro do mês e torrar em cachaça; sua companheira não concorda. Vocês terão que negociar. O dinheiro é para o leite das crianças, argumenta ela. E vão fazendo essa “política” até chegarem a um acordo. Se não, o pau quebra. Existe felizmente a Lei Maria da Penha. Melhor é debater – com educação, sem levantar a voz – e dividir o dinheiro de tal forma que se compre o leite primeiro, e se sobrar, tudo bem, divertir faz parte da vida. Boa política é assim.
Claro, existe a má política, aquela que leva a brigas, feminicídio, armamento, guerras – mas desta não vamos falar neste curto espaço. Aliás, o mundo está cheio dessa má política, e feita por engravatados, graduados e condecorados por eles mesmos. Deixemos para lá esses, vamos falar da maioria absoluta, nós mesmos, povão.
Estamos assumindo finalmente nossa posição de – sim, política, muita política – queremos botar nossos nomes à disposição para vereador e prefeito e as nossas caras a tapa, dispostos a encarar as redes sociais, as conversinhas, as feiques.
Ora, um pouquinho de História (com maiúscula) ajuda a entender a importância do que está acontecendo. Vamos recuar 500 anos, o tempo de nossa história “civilizada”, européia. Não existia eleição, os chefões nasciam eleitos, nomeados por Deus (eles diziam). As coisas eram resolvidas por barões, príncipes e reis. Isso durou até 1889, quando inventaram a “coisa pública”, com o nome importante de REPÚBLICA, e aí o povo é que escolhe: vota! Até 1934, metade da população era proibida de votar: as mulheres. Brasileiros analfabetos (capazes de decidir eleição: são milhões) só puderam votar em 1985. Agora o voto é universal. TODOS podem votar a partir de 16 anos, idade em que o indivíduo, supõe-se, tem discernimento para dizer: aquele me representa, voto nele!
Quando a comunicação era feita na base do estafeta, as pessoas demoravam a saber das notícias, que andavam devagar, vinham escritas, excluindo a maioria do povão. Hoje elas vêm no zape, quase em tempo real. E não precisam ser lidas, são escutadas.
Isso, provavelmente, converteu todo mundo em, senão político, pelo menos politiqueiro. Damos palpite sobre todos os assuntos, mesmo sem saber nada, ou “sabendo” por fontes sabidamente mentirosas. Caímos nas mentiras – agora chamadas feiquinius – feito patinhos. Mas não tem importância: cair nas mentiras e passá-las adiante faz parte. Falar patacoadas sobre saúde, educação, segurança, privatização, cassação, impichamento virou conversa de cozinha, boteco, calçada de casa lotérica, banco de jardim.
Então, temos mais é que festejar e acompanhar nas tevês, rádios e imprensa local os candidatos falando o que fizeram e vão fazer, apresentando projetos de governo.
Com certeza, vai chegar a hora em que vamos topar com a caixa preta do dinheiro. Quanto tem para fazer o que queremos? Contratar médicos, enfermeiros, auxiliares, comprar isso e aquilo, reformar, fazer pontes, tapar buracos, aumentar salários, etc.? E quando descobrirmos que precisamos de 1 milhão e só temos 100?
Voltamos para a disputa do marido querendo tomar cachaça com o dinheiro da família, e a esposa dizendo que é para o leite das crianças. O dinheiro não dá para tudo, e a decisão é política. E quando descobrirmos que os juros consomem quase todo nosso dinheiro? São bilhões (em 2023 foram 718)! E que isso tem a ver com Banco Central, taxa Selic, 513 deputados e 81 senadores que DECIDEM se gasta em cachaça ou leite?
Sim, seremos cada vez mais politiqueiros para abrir essa caixa preta. Queremos dinheiro para o SUS, escolas, estradas etc. E saber de onde vem essa dívida e por que esses juros são tão altos.
Existe uma velha ideia realmente velha e da qual precisamos nos libertar, porque nos tem feito muito mal. Para ajudar a entender, podemos fazer comparações: uma comida velha, com data de validade vencida. Você come e fica com dor de barriga e diarréia. Um carro velho, com pneus carecas, motor fundindo, e você entra nele para uma longa viagem. Vai ficar no caminho pedindo guincho, fazendo despesas e perdendo tempo.
Claro: uma pessoa velha é um ser humano, e não coisa. Dela você cuida, ouve suas histórias de vida, aprende. Não misturemos: gente não é objeto nem ideia.
Voltemos àquela velha ideia a que me referi acima. Eis: a de que somos inferiores, o tal complexo de vira-lata (com todo o respeito pelos nossos cães vira-latas).
Quando ela se aplica à política, é um desastre. Porque, nesse caso, vamos ficar dominados pelo que vem de cima, achando que é SUPERIOR. Principalmente agora, que se aproximam as eleições municipais, e ficamos esperando que os PARTIDOS nos ensinem a resolver nossos problemas. O PSD acha que é ele, o PL mesma coisa, e assim todos e cada qual: PT, PV, DEM, PFL, ARENA, MDB, etc. E, LÁ DE CIMA, nos jogam dentro dessas gaiolas, e estabelecem aquilo que eles entendem por: DIVIDIR PARA GOVERNAR.
Errado! Não é “dividir para governar”, é DIVIDIR PARA DOMINAR. O que devemos fazer é UNIR PARA GOVERNAR.
Porque senão ficamos nós cá embaixo divididos (e dominados), brigando uns com os outros, quando todos nos conhecemos, sabemos quem cada um é, com seus defeitos e qualidades, e poderíamos muito bem sentar em volta da mesa e discutir nossos problemas. CONVERSAR, e conversar muito. Para isso temos todas as vantagens que os LÁ DE CIMA não têm: somos vizinhos, sabemos os endereços uns dos outros, onde trabalham, temos os telefones, conhecemos os parentes, os inimigos na maior parte das vezes por bobagens fáceis de superar, nos encontramos nas ruas, padarias, botecos, velórios e não raro nas igrejas casando nossos filhos com as filhas dos adversários políticos.
Mas o complexo de inferioridade – ou de vira-lata – nos atrapalha perceber isso.
Nas eleições municipais é fácil ver como funciona. As REGRAS – que vêm lá de CIMA – nos obrigam a filiar em partidos. Filiados, automaticamente viramos adversários quando não inimigos (o que é bem diferente e pior) e fechamos todos os canais das CONVERSAS. Deixamos de fazer aquilo que é nossa grande vantagem: nos reunir para CONVERSAR, falar de nossas dificuldades e de nossas vitórias também. Mas, porque estamos filiados, ficamos a brigar porque um acha que o agro é pop e o outro que ele mata, um defende a privatização e o outro o estado mínimo, se vai ter quota ou não, se acaba com o bolsa-família, se vamos lutar pelo liberalismo ou pelo comunismo, etc.
Os problemas, porém, são muitos e bem diferentes dessa conversa fiada que nos impõem LÁ DE CIMA. Basta abrir os olhos para ver.
Nossa água, por exemplo. Temos que ver como preservar nossas nascentes. Vamos lotear o Capão do Caçador ou deixar a vegetação vir com força? E o barulho que azucrina nossas conversas diurnas e nosso sono noturno? E o lixo, esgoto, buracos, estradas? Precisamos de pontes, creches, UPAs? O que vamos resolver primeiro? Afinal, o dinheiro é curto. E donde mesmo vem esse dinheiro?
Precisamos conversar sobre isso. NÓS, que moramos em São Gotardo e gostamos de nossa cidade, queremos que ela seja o melhor lugar do mundo para se viver – e isso não impede que todas as outras cidades também sejam. Quando fizermos isso, com certeza teremos melhores deputados, governadores, presidentes.
Recebi um vídeo em que um advogado comemora a “vitória” sobre a “safadeza” dos vereadores de sua terra, que é ganhar um salário de 10.125 reais. Ele, “bom patriota”, entrou com uma ação e conseguiu reduzi-lo para 1.500. E declarou: está extinta a profissão de vereador em minha cidade. Ora, nada mais antipovo, antidemocrático e – dependendo do que se entende por pátria – também antipatriótico. Veja a História.
Até os anos 1950 e 60, vereador só ganhava uma ajudazinha para sair lá do Gordura, Cerca Velha ou Cruzeiro, que “elegiam” o seu vereador porque tinham muitos eleitores. Os candidatos eram escolhidos pelos chefes políticos entre os “do bem”, sempre gente com algum dinheiro. POVO mesmo, desses que ralam da manhã até a noite, nenhum! Vê lá se teriam tempo para comparecer às reuniões da Câmara!
E já era um GRANDE AVANÇO porque, recuando cem ou duzentos anos, isso nem existia. As leis – diziam - eram enviadas por Deus. Depois que, na Revolução Francesa, se mataram barões e duques e se cortou a cabeça do rei e da rainha, é que surgiu o que mais ou menos hoje se chama POVO.
Inventou-se, vamos dizer, a tal DEMOCRACIA moderna = “governo do povo”, o povo manda: afinal ele sabe do que precisa. Mas essa de “povo governa” é uma leréia. Quem trabalha 10 horas por dia no pesado vai governar o quê? Ele conhece seus interesses mas não tem como defendê-los. É fácil botar um melzinho em sua boca e falar: vota em mim, vou te representar. Representa sim a minoria dona do mel.
Quando, porém, o povo começou a perceber que seu voto valia igual ao do rico, ele botou preço. Voto mas se me der cesta básica, nota de cem, saco de cimento. Melhorou, porque antes ele nem votava! Agora vota e põe preço. Na República Velha (1889-1930), o coronel fazia churrasquinho, botava a turma no “curral eleitoral”, levava cada eleitor até a urna e avisava: se eu não ganhar, o pau quebra. Era o voto de cabresto.
Há pouco tempo, a política ainda funcionava assim. Com a internet, continua igual, só que com outros cabrestos: vídeos, tiktoques etc. O trabalhador escuta o dia inteiro leréias aos milhares, falando que a esquerda é o capeta, come criancinhas; e a direita é deus-pátria-família e tal. O povo engole a patacoada e acaba votando contra si mesmo. Basta olhar no Congresso deputados e senadores: 90% não querem SUS, nem escola pública, nem melhores salários, nem direitos trabalhistas. Eles defendem privatizações, empréstimos sem juros, perdão de dívidas, etc. E ganham MUITO BEM! O advogado lá do início implica com o salário do vereador de 10 mil. Ele não quer POVO na Câmara, mas alguém que pode sair de casa tranquilo, sem dívidas, para a reunião mensal de aprovar leis que não entende, e está feito seu “trabalho”. Então 1.500 tá de bom tamanho!
Acontece que vereança vai MUITO ALÉM. Para começar, o vereador vereia: anda pelas veredas da cidade e do município para saber como estão as coisas, vigia pelo bem-estar da comunidade, faz a mediação entre os munícipes e a prefeitura, chama esquerda e direita para conversar, procurando harmonia e não briga. Ele lidera, toma iniciativa, esclarece. O povo espera que faça isso e lhe paga um salário bom para que ele possa deixar seus outros ofícios e se dedicar o dia todo à vereança. Não é dádiva celestial, mas conquista popular: a maioria quer ter na Câmara representantes que tenham a sua cara!
O advogado quer acabar com a profissão de vereador. É antiPOVO e antiPATRIÓTICO. A PÁTRIA, hoje, inclui também os 90% que trabalham de sol a sol e gostam do seu 13º, férias remuneradas, auxílio maternidade, aposentadoria.
“Rótulo”, segundo o dicionário (adaptado), é “uma peça (de madeira, papel, metal) com alguma inscrição pertinente à coisa em que é pregada”. Em linguagem fácil: o que se escreve ou desenha num objeto para ajudar a esclarecer o que tem ali. Por exemplo: uma garrafa de cachaça. Escreve-se lá: “51”, “Mineira”, “Pereirinha”, “Garciana”. O cliente sabe de onde veio, e se é conhecedor vai fazer a escolha que melhor lhe sabe ao paladar. (“sabe” aí é de sabor, gôsto: que ele mais gosta.) Rolando Boldrin, pesquisador de boas anedotas do nosso folclore, conta a de um “especialista em cachaça”.
Para o dono do boteco, o indivíduo chegava a ser chato. Tudo ele conhecia: bebia uma, sem ver o RÓTULO, e dizia: esta é de Pernambuco, esta é de Salinas Minas Gerais, esta é de São Gotardo ... Pior é que não errava! Aí o botequeiro resolveu fazer o contador de prosa passar vergonha. Pegou uma garrafa, lavou e encheu com água cristalina. O fulano chegou, bar cheio, todos já sabendo da tramóia: na garrafa SEM RÓTULO tinha água. O dono do bar desafiou: quero ver você adivinhar que pinga é essa. Põe aí, ele falou. O botequeiro pôs uma boa dose. O “especialista” pegou, cheirou, rodou o copo e pá! virou na cara. A turma olhando. O sabidão bochechou, salivou, abriu e fechou a boca, e falou: uai! essa tá difícil! Olhou o pessoal com cara de riso, disfarçando, e mandou: põe outra! Lá foi mais uma talagada. Ele fez os mesmos gestos, trejeitos, e vapt! virou na güela!... Idem! Epa, num tô sabendo! O pessoal, porém - que sabia! –, caiu na risada, o botequeiro mais ainda, e, para humilhar bem, falou: ô seu besta, isso é água! E o especialista: uai, isso que é água?
Mas interessa aqui é a questão do RÓTULO. Se tivesse rotulado “ÁGUA”, ele não teria passado vergonha. Beberia sabendo que era água e ponto final. Conta-se de um experimento “científico”: colocaram vinho, o mesmo, em duas garrafas com RÓTULOS diferentes, numa escrito “Vinho do Porto” e o preço de 149,90; noutra “Sangue de Boi” e o preço de 29,99. Convidadas três pessoas para “experimentar” – o MESMO vinho! –, em duas taças, uma para cada garrafa, elas experimentaram, degustaram e avaliaram: TODAS disseram que o vinho de 149,90 era MUITO superior!
Conclusão: o RÓTULO influencia o comportamento. Significa que ele é IMPORTANTE DEMAIS! Espera-se que para cada produto coloque-se um rótulo VERDADEIRO. Se é pinga é pinga, se é água é água. O rótulo ajuda quem o vê a se orientar: se compra ou não, se é o que deseja ou não.
RÓTULOS em objetos é uma coisa: numa garrafa de suco, roupa de marca, um carro, geladeira, livro. Imagine você comprar um livro com o rótulo: RECEITAS DA VOVÓ, e quando o leva para casa e abre para fazer um bolo encontra uma “HISTÓRIA DE TERROR”! Imaginou? É o que acontece quando o RÓTULO É FALSO, ou FEIQUE! (ou fake). Em palavra antiga: é MENTIRA!
Ora, a situação acima, que serve como ILUSTRAÇÃO, é grave, porque você pode encontrar isso em TODOS OS OBJETOS: a pinga pode ser água, o vinho pode ser ruim, o carro pode não corresponder à propaganda, a gasolina pode ser “batizada” com água, etc. Mais grave, no entanto, é quando o rótulo é colocado nas PESSOAS. Pessoas rotuladas: este é legal, aquele é safado. Se for um RÓTULO VERDADEIRO, você se aproxima do legal e corre do safado. Este paga as contas, aquele finta; este é encrenqueiro, aquele é de boa convivência; este é honesto, aquele é pilantra. São rótulos miúdos mas de grande efeito construtivo ou destrutivo. Mesmo porque pessoas mudam (até objetos mudam!).
Existem RÓTULOS grandes, macro: COMUNISTA ou FASCISTA, por exemplo. Servem para o mundo todo. Ao rotular um indivíduo de COMUNISTA, você afasta muita gente dele e o aproxima de outros. FASCISTA, a mesma coisa. No mundo político, os rótulos servem para aproximar ou separar. Muitas vezes, rótulos diferentes designam o mesmo “vinho”. Suponhamos: fascista, direitista, imperialista, extrema-direita, ocidental-cristão, privatista. Ou: esquerdista, socialista, estatista, vermelho, petista. Muitas vezes a pessoa não é nada disso, é igual a garrafa com água; se lhe pregam um desses rótulos, às vezes fica para sempre. O próprio indivíduo, sem senso crítico, se deixa levar pelo rótulo e, embora seja ÁGUA, acha que é PINGA.
TODOS estamos sujeitos a passar pela rotulagem: traficante, drogado, subversivo, radical, fanático, doutrinado, etc. Mas, se aprendemos a “pensar com os próprios botões” – isto é, se desenvolvemos o senso crítico, veremos tratar-se de MANIPULAÇÃO, que se pode fazer ao nível da fofoca, baratinho, custa só o tempo que se passa fofocando. Ou ao nível industrial, usando a internet, em que se contratam “influencers” muito bem pagos, com aparatos sofisticados e caros, para produzir laives, podcasts, robôs, tiktoques, instagrans e os raios-que-partam as vítimas dos RÓTULOS depreciativos. Vamos, infelizmente, encontrar muita gente tomando água achando que é cachaça. Pior: tomando água suja achando que é água da melhor qualidade. Rótulos são rótulos! Fácil pregar na testa dos outros.
Um leitor me perguntou: por que você fala tanto em política? Tenho mil respostas, impossível colocar todas aqui, mas colocarei algumas. Por exemplo: acaba de passar na minha frente um carro com o som ligado lá em cima e tenho que esperar ele sumir para continuar a conversa. Este é um exemplo mínimo, que se torna grande porque pode ser multiplicado mil vezes numa cidade como a nossa. São muitos carros, e dentro deles uns motoristas que, parece, não acham que estão incomodando... ou talvez saibam que estão mas é isso mesmo que eles querem. Essa é uma questão política! Se não resolver com política, parte para agressão, tiroteio, bomba! Por aí, coisa que sempre é a minoria que gosta, a maioria não gosta de guerra!
Se for feita uma pesquisa com bases científicas, meu palpite é que a maior parte da população está incomodada com os barulhos. Conheço uma pessoa que saiu de seu apartamento pagando 1.700 para se mudar para outro de 3.000 por causa do barulho, não só das motos, mas também dos carros de som fazendo propaganda de coisas em que provavelmente 99% da população não está interessada. E são obrigados a escutar, parando de falar ou ouvir enquanto passa a zoeira, e sem prestar atenção nenhuma. Os comerciantes bem poderiam se modernizar usando a internet para fazer propaganda!
Mas a população é vítima de muitas outras agressões do tipo “poluição sonora”. Quantos vão dormir às 22 horas e já sabem: vai ter barulho até madrugada!... Alguns fecham a casa, torcendo para o som não passar pelas paredes... mas passa! Ele entra pelas frestas das janelas e portas. Outros tomam remédio para dormir ou passam acordados mesmo, e só depois de muita canseira dormem... mas aí o dia já está amanhecendo. Quem tem recurso, muda de residência.
Nem todas as cidades são assim. Ouvi (sem comprovação!) que Carmo é tranquila. Dá gosto morar lá, porque a pessoa sabe que, depois do trabalho, ela pode chegar em casa e deitar e dormir, sem ter que ligar para a polícia pedindo providências... que quase nunca são chegam em tempo, não por culpa da polícia mas da quantidade de chamadas noturnas para atender.
Já fiz abaixo-assinado, fui à Câmara de Vereadores, falei com pessoas da prefeitura, mas não consegui nada. Motoristas continuam passando nas ruas com um sonzão horroroso, bem nos nossos ouvidos, e acham que todo mundo está adorando aquela zoeira!
Vai indo, claro, a gente se acostuma. E não nota mais. Se não nota, não reclama. Mas já está provado que boa parte da doideira geral que leva tanta gente ao psicólogo e a tomar remédios está ligada à poluição sonora, que se tornou tão normal que as pessoas aceitam. Tanto é que, quando vão à zona rural, estranham o silêncio.
Mas o silêncio faz muito bem à saúde, não só física, do funcionamento dos intestinos, fígado, etc., mas também do psicológico, das emoções, da boa convivência. No entanto, esse silêncio não tem sido valorizado. Quer uma prova? Entre num supermercado, em certas lojas! O som está ligado durante todo o expediente. O freguês tem a vantagem de ficar um tempinho e ir embora. E a turma que fica lá o dia inteiro? Claro, talvez eles digam que a música distrai, etc. Sendo assim, nada a fazer!... A menos que percebam que dores de cabeça, insônia, brigas em família e outras doencinhas até mais graves têm a ver com a “música” com a qual se acostumaram.
Esse é um assunto político, isto é, tem a ver com a polis, com a convivência na polis, que é a cidade. Ou você vai ao vizinho e pede para ele abaixar o som, ou ao gerente e faz uma reclamação, ou à Câmara de Vereadores e pede uma providência contra os barulhentos: isso É POLÍTICA! ... ou então parte para a guerra, muda de residência, ou vira imigrante: muda de cidade! Porque há cidades em que as leis são respeitadas, os infratores são punidos, as autoridades cumprem suas funções garantindo o silêncio noturno.
Dei um exemplo (há muitos outros) de algo bem concreto que tem a ver com política. Sem política, o problema se agrava. E quem são os políticos? Todas as autoridades! ... de forma direta vereadores e prefeitos, ou de forma indireta delegados, policiais, promotores e juízes. E mais indireto ainda: professores, advogados, médicos e... no final... todos! Ninguém escapa, ou como agressores ou como vítimas.
Já se fala nos bastidores: fulano vai candidatar. Também o sicrano e o beltrano, até você e eu podemos candidatar. Não tem mais aquela conversinha mole de que o governante nasce de sangue azul. Mas por séculos foi assim: ele nascia barão, príncipe, rei. É sangue azul? Então manda, e os de sangue vermelho – 95% ou mais – obedecem.
Não é mais assim. Agora o cidadão – se quer governar – tem que se candidatar e sair por aí pedindo voto. E às vezes (quem tem dinheiro) comprando!
E por que falam nos “bastidores”? Porque lá – fora das vistas e dos ouvidos do público – é que “acontecem” as coisas: quem vai ser candidato, quem não pode, quem vai pra tal cargo, quem demite, quem fica, e o dinheiro ondé que tá, etc. Quando as coisas vêm a público, isto é, chega aos ouvidos e às vistas do povão, as cartas já estão marcadas, e a campanha para fazer as cabeças dos eleitores aparece nas ruas, nos comícios, nos santinhos e até nas portas de suas casas. Isso era antigamente! Agora é no celular, nas redes sociais.
Aí você e eu torcemos os narizes: detesto política! Esses caras não estão com nada, só aparecem nas eleições prometendo mundos e fundos. E bonzinhos, hein!
Pois, em vez de xingar, devíamos achar bom. Por quê? Uai, eles estão nos “pedindo” voto! Olha que beleza! PEDINDO, logo a nós que em geral não valemos nada. Mas o voto vale. Muito mais que um par de sapato ou um saco de cimento! Então não xingue, alegre-se, pelo menos nessa época você “vale o voto que tem”. Esse 2024 vai ser uma beleza!
Quanto a serem “bonzinhos”, são mesmo! No plano das ideias, são muito gente boa, tanto é que se dispõem a servir a nós, a comunidade. Quer coisa mais bonita? Eles se oferecem para arrumar as ruas, tampar buracos, resolver o problema do esgoto, botar ordem nos loteamentos para MAIS TARDE prevenir enchentes, regular o barulho DESNECESSÁRIO na cidade, fazer cumprir a lei do SILÊNCIO impedindo casas noturnas de botar o volume lá nas alturas e azucrinar o sono de todo mundo que mora perto, e afinal investir o dinheiro do orçamento PÚBLICO em boas escolas, bons postinhos de saúde, pessoal bem remunerado e feliz trabalhando para nos servir etc. e tal. Essa LISTA enche esse jornal DAQUI.
Pois é: o ideal seria isso que está no parágrafo acima. Mas e a prática?
Na prática, é que os eleitores, nós – em geral!!! – votamos feito baratas tontas. E barata tonta mais erra do que acerta ao escolher o candidato que se dispõe de verdade a trabalhar para
... eu ia dizer: TODOS! Mas aí começa o problema. A palavra “todos” inclui ricos e pobres, quem tem casa e quem mora na rua, quem nada em dinheiro e quem não tem nada, quem come demais e quem não come. Trabalhar para TODOS? Não, na prática isso não acontece. Na prática, os candidatos defendem seus PARTIDOS. O nome já diz: partido, parte, pedaço. E aí – NA PRÁTICA – o que acontece? Leva a melhor parte o grupo mais forte.
Essa “melhor parte”, para resumir tudo, é a dotação orçamentária, a verba, o dindim. Você sabe quanto pagamos de JUROS por ano a alguns bilionários? Segundo o Gúgul, 780 bilhões (8% do PIB). Só de juros, porque a DÍVIDA até aumenta. Em gastos com educação, o percentual baixa para 1,3%. Você, bom nas contas, avalie! E entenda porque as taxas de juros são tão altas!
E sabe quem VOTA o orçamento? Deputados, senadores e vereadores: políticos que nós elegemos. E nós mesmos os chamamos de corruptos. Ora, elegemos corruptos? Culpa de quem? De nós, os idiotas que votam igual barata tonta.
Conclusão: pare de falar que não gosta de política. Pelo contrário: seja tão político quanto todos temos o direito e até obrigação de ser. O que está em jogo é para onde vai nosso dinheiro. Sim, “nosso” porque vem dos impostos que nos impõem e somos obrigados a pagar. Então, simples assim: queremos saber para onde vai isso.
Feliz 2024 para todos os eleitores que não querem votar feito barata tonta. Para os outros também, coitados! Porque, no fim das contas, estamos no mesmo barco. Se afundar, vai todo mundo junto, as baratas tontas e as não tontas.
Seu Antônio, ao falar de seu antigo local de trabalho, abaixa a voz: muito bom, tudo caladinho, sem barulho, você escuta até formiga caminhando. Era o cemitério. Parece ser o espaço que restou ao agoniado e insone vivente do século XXI para livrar-se do barulho.
Porque em casa, mal bota a cabeça no travesseiro, o vizinho liga o som no último volume para ouvir o heavy metal do Sepultura. Reclamar ou fazer BO nem sempre resolve. Insônia na certa. O jeito é ir ao doutor, que receitará amitriptilina, diazepam, nortriptilina, bromazepam, alprazolam, sem garantia de bom sono. E há os efeitos colaterais: dores musculares e de cabeça, prisão de ventre, boca seca, dificuldade de concentrar, tontura, humor instável. Misturada de remédios pode camuflar uma diabete, pressão alta, AVC. Se sobreviver, arrisca ficar dependente dos benzodiazepínicos, levar tombos e cair na demência! Existe até uma ICSD (sigla para “Classificação Internacional de Distúrbios do Sono”), que propõe ajudar as vítimas (todos nós) apontando sintomas: dificuldade para dormir, preguiça para cumprir compromissos, déficit de atenção e memória, hiperatividade, não consegue desligar o som, impulsividade, agressividade, cansaço, perda de motivação, dificuldades no ambiente familiar, escolar ou ocupacional, propensão a acidentes, sonolência diurna.
Este é um assunto pouco falado mas presentíssimo no dia-a-dia: barulhos acima de 55 dB (decibéis). Entre num supermercado. Sempre haverá um SOM LIGADO direto e reto. Para o cliente que fica minutos, a perturbação nem é sentida. Mas para os funcionários tem um efeito arrasador, segundo o American College of Physicians (ACP) (Colégio Americano de Médicos). Para o ACP, todos os pacientes adultos devem receber TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) como tratamento para insônia, provocada sobretudo por ruídos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) alerta: mais de 55 decibéis, saúde mental em perigo. A partir de 85, pode ficar surdo. Pensando bem, vivemos num ambiente de barulho infernal. Basta transitar por uma rua como a Bento Ferreira e contar as caixas de som voltadas para as vítimas que transitam nas calçadas. Pior para quem trabalha ali. Talvez elas nem relacionem seu estresse, pressão alta e brigas com vizinhos aos decibéis que entram por suas orelhas.
Quem dorme mal, ganha peso. No sono, o organismo produz leptina, responsável pela sensação de saciedade; não dormindo, produz grelina, que reduz o gasto de energia e faz engordar; fica sem leucócitos para combater corpos estranhos; vírus e bactérias atacam com gripes, resfriados, infecções etc. O metabolismo endoida: daí o cansaço, ansiedade, dores, sensação de fome. Com baixa concentração, estudar é difícil, e fácil sofrer acidentes. O corpo não produz melatonina, reparador da pele; você envelhece, fica nervosinho, perde a memória, desregula a pressão, cai num alerta permanente.
Talvez não seja necessário acrescentar mais porcarias para sensibilizar as pessoas. Há leis sobre o assunto, mas fraquinhas e nada respeitadas, a critério dos 5.500 municípios brasileiros. As poucas normas federais são escanteadas para a Lei de Contravenções Penais (3.688, de 1941), que determina multa de 200 mil réis a 2 contos de réis e prisão até 90 dias para quem “perturbar o sossego alheio” com gritaria, instrumentos sonoros, e não impedir barulho de animal de que tem a guarda. Nossa lei municipal 1.565, de 2002, considera prejudiciais ao sossego ruídos superiores a 85 dB. É como ficar exposto a uma cachorrada latindo o dia inteiro em seus ouvidos. A “lei do silêncio”, que existe em abstrato, recomenda 50 dB entre 22h e 07h; para o dia, até 70. E o Código Civil, no sumido artigo 1.277, determina que o morador “tem direito de fazer cessar as interferências prejudiciais ao sossego provocadas pelo vizinho”.
Como enfrentar caixas de som de vizinhos, bares, carros, ruas e lojas? Para resolver, a comunidade precisa primeiro tomar consciência de que é um problema; segundo cobrar das autoridades. Ou conformar-se com tampões nos ouvidos, uma boa anfetamina, chazinho de erva-cidreira, suplementos de magnésio ou um leitinho morno. Se não resolver, vai pro cemitério!
Olha o milagre da consciência acontecendo. De repente, Dylan, 10 anos, começou a pedir frutas e verduras. Ele, viciado em todas as patacoadas oferecidas nas gôndolas de padarias, mercados, lanchonetes e – até! – farmácias (a lista é comprida: ships, pirulitos, quinderovo, tridentes, chicletes, refris, sucos, e uma variedade infinita de bolachas, biscoitos, sanduíches, pizzas, etc.), ele agora quer comer alface, rabanete, cenoura, beterraba, vagem, (até) quiabo e jiló, além – claro – do arroz e feijão!
Que foi que aconteceu, Dylan?
Resposta: ah, os remédios que meu pai compra pra mim são muito caros, eu tô sempre doente, garganta inflamada, gripado, tossindo, e aprendi com Hipócrates que “o seu alimento seja o seu remédio, e que seu remédio seja seu alimento”.
Olha que maravilha o conhecimento é capaz de produzir: consciência, e daí em consequência: saúde, alegria, bom humor, boa convivência – por aí vai. Basta ensinar isso para as crianças, elas passam a se cuidar de maneira barata, rápida, eficiente.
Agora vem a pergunta: por que a mídia não faz isso?
Resposta curta e realista: ela está interessada em dinheiro, lucro. Aliás, nada contra. É a lógica do capitalismo. O leitor nem o autor deste artigo encontraremos na televisão uma reportagem falando mal, por exemplo, da coca-cola. Alguém já viu? Por isso mesmo as pessoas, em grande número, sentam-se para almoçar ou jantar com um litrão bem gelado na mesa, e todos – adultos e crianças – se servem à vontade, ao mesmo tempo mastigando e bebendo. Afinal, graças ao desenvolvimento tecnológico, os refris se tornaram “bons” e baratos. Antigamente, só ricos compravam. Agora, tornou-se bebida presente em qualquer tipo de mesa, além de nos restaurantes ser costume – depois que o freguês faz seu prato – chegar o garçom prestativo e: “vai beber o quê?”
Foi preciso que Dylan sofresse suas dores de garganta e incômodos como tosse e catarro, mas não só: que ele conhecesse o livro do doutor Márcio Bontempo chamado “Como ficar doente”. Não que tenha lido, mas os pais leram e ficaram sabendo coisas que não aprenderam em casa, na escola, nem se “desinformando” na tevê, rádio, jornais e revistas de grande circulação.
Donde se conclui que é preciso se defender da própria mídia. A prática do covlac – sigla em português para calar, ouvir, ver, lamber, apalpar e cheirar – é um caminho: fácil de decorar. E de praticar também – com a seguinte condição: cuidado com a mídia! Ela quer levar todos nós a caminhos longínquos, lá pro Oriente, guerras, casos sensacionais, e esquecemos do covlac: apalpar, cheirar, lamber etc.
Comece parando de falar (ou pelo menos diminuindo), e deixe entrar pelos cinco sentidos os conhecimentos que vão para a inteligência: “Nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensu”, ensina São Tomás. Ou seja: nada chega à sua inteligência que não passe primeiro pelos sentidos. Ouvindo mais e falando menos, haverá condições para enxergar, sentir os gostos nocivos dos açucarados e salgados, usar o pouco valorizado sentido do tato para apalpar as coisas e refugar as que não prestam, e enfim cheirar o ambiente, fugindo de gases fedorentos para aquele arzinho agradável de matas e cerrados.
Interessados podem encontrar o doutor Márcio Bontempo na internet e se informar https://doceru.com/doc/xncxene para conduzir a vida sem tanta doença, remédios, com menos dependência de médicos, exames, viagens para tratar de problemas de saúde, despesas, etc. O conhecimento liberta e facilita a vida!
Primeiramente vamos torcer para a Natureza funcionar conforme regras aprovadas há milhares de anos segundo as Escrituras; ou bilhões segundo a Ciência. De qualquer forma, pelo que falam nossos avós, a estação das chuvas era tranquila: umas pancadas em agosto, em setembro podia-se plantar, de novembro a janeiro invernava dias e noites sem parar, aquela chuvinha mansa que exigia capas, galocha e guarda-chuva – hoje objetos de museu. Nas roças, sabia-se que no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, ainda se podia plantar milho porque não faltaria água – do céu e não dos pivôs. A enchente de São José em 19 de março marcava o fim da temporada chuvosa.
Mudou? Quem nasceu no século XXI não nota, mas a turma do século passado com alguma ligação com a terra sabe da importância das chuvas. Mas a da cidade detesta, e com razão porque atrapalha andar nas ruas, viajar, ir a festas, etc.
Daí a necessidade de ensinar nas escolas para as crianças que chuvas são importantes. E que elas estão intimamente ligadas às árvores. Não só de árvores distantes na Amazônia ou Indonésia (lá também), mas das nossas aqui, nas ruas para dar sombra a nossos veículos, e nas fazendas alimentar as nascentes, embelezar rios e córregos, diminuir as temperaturas ambientes cada vez mais elevadas.
Ainda está em tempo de mudar nossa paisagem. Para isso precisa antes mudar a mentalidade. Vou dar dois exemplos para explicar a ideia. O primeiro foi o que aconteceu comigo quando adquiri meus hectares no Borrachudo. Mais ou menos metade da área era ocupada por uma matinha rala, onde as vacas circulavam aproveitando algum capim meloso que brotava daqui e dali. Meu pai, nascido e criado na roça, aconselhou: corta e faz pasto. Você ganha dinheiro com a madeira, depois com gado de leite ou corte. Não segui o conselho, comprei mais alguns hectares de pasto do vizinho e deixei tudo virar mato: vaca não entra mais. Na linguagem antiga: “sujou”.
Segundo exemplo encontrei na região conhecida como “Rabo-de-Tatu”. Muito bonita, mas a im-pressão que tive foi de terra sofrida, expropriada de suas árvores. Lá, numa área de 4 hectares, Jor-dano(foto ) plantou 500 mudas de mogno e outras variedades (foto) em meio à sua pequena lavoura de café – que vai desaparecer quando as árvores crescerem. E já arou a parte aproveitável restante para plantar mais 2.000 mudas. Ao ver o terreno arado, um vizinho perguntou que semente de capim ele iria semear. Ao ouvir “vou plantar árvores”, custou a acreditar. Como? Vai desperdiçar o terreno?
Entende-se que proprietários tenham suas razões para pensar em tornar sua área mais rentável. Mas aí está o “pulo do gato”. Essa mentalidade precisa mudar. Meu pai achava que metade do meu terreno estava “suja”. O vizinho do Jordano acha que ele, ao plantar 2.000 árvores, vai “sujar” o terreno.
Para ser justo com a memória, devo dizer que meu pai me deu razão anos depois. Ele mudou a mentalidade ao ver o sítio bonito, agradável e com a nascente bem protegida à esquerda e à direita. O sítio pode não ser o mais rentável para mim a curto prazo, mas é rentável para todos a longo e imediato prazo também: produz temperatura, ar, água, beleza, e a Natureza agradece e não nos surpreende com catástrofes.
Que tal: vamos plantar?
Para conseguir mudas, procure o Ronaldo no viveiro do Proman; ou o Belchior no Viveiro do Cerrado (perto da rotatória em frente ao Parque de Exposição), telefone 34 99822 3497; ou ligue para a Futuro Florestal celular 14 99761 0165.
Liberdade de expressão - direito de manifestar opiniões e ideias sem medo de retaliação ou censura – é fundamental nas democracias. Está no artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão, incluindo a de procurar, receber e transmitir informações e ideias”.
Esse direito não caiu dos céus. Foi conquista da maioria oprimida contra a minoria opressora. Busquemos na Antiguidade referência para melhor entender. Em Atenas, 400 a.C., escravos e mulheres faziam os serviços braçais. Isso permitia aos poucos “cidadãos” se dedicarem em tempo integral aos serviços intelectuais – e “nobres” – da política, espaço de manifestação de opiniões e ideias. Excluídos escravos, mulheres, prisioneiros e estrangeiros. Hoje ninguém contesta que estes tenham – também! – ideias e opiniões e possam politicar.
Nossa Constituição garante, no art. 5º. IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. E no art. 220, 2º: “É vedada qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Evidente que haverá limites: quando, por exemplo, sob essa pretensa liberdade, atinge-se a honra, a dignidade, a democracia, ou se espalham discursos de ódio.
Vamos imaginar uma situação possível, colocada de forma caricata.
Posso falar?
- Sim, liberdade de expressão.
Você é ladrão. E vou dizer isso a todo mundo.
Imagine, leitor/a, que o “suposto” ladrão – um Zé Qualquer – more numa cidade de 40 mil habitantes e essa “informação” viralize. Ora, quem diria? Tão certinho, religioso! Perdeu minha confiança, no meu comércio agora, só no dinheiro. No meu, nem entra. Envolvido até o pescoço em roubalheiras! Agora só anda de caminhonetona. Tem fazenda no Norte cheia de gado, mansão, triplex, jetisqui, jatinho! Rapáis! Quem diria? O roubo compensa.
Passam anos. Zé Qualquer continua com o carrinho velho, mesma casa, trabalhando do mesmo jeito. O indivíduo que roubou, “dizem”, é outro Zé. Foi “equívoco”, por inveja, ódio, interesse eleitoreiro. Mas a fama ficou. Para sempre, porque o Zé morreu, deixou aos herdeiros casa barata, fusquinha e alguns hectares de chão. Mas só alguns parentes ficaram sabendo; e poucos amigos, que apenas confirmaram o que sempre souberam: tudo mentira.
O caricato chama a atenção. Estamos mergulhados em situações parecidas, com mil variações. O Zé Qualquer pode, por exemplo, ficar bravo e reagir com um murro. Mesmo aí há ao menos duas possibilidades: ele é ladrão, mas reagiu violento para “provar” sua inocência. Quer fechar logo a boca do fofoqueiro, evitar desdobramentos. Os que viram o murro testemunham que ele é honesto. Segunda possibilidade: Zé não é ladrão, sentiu-se difamado e reagiu em defesa da honra. Para encerrar – já que ficou mal falado – muda-se para longe com a família.
O caso ilustra a condição humana com “baixa tecnologia”. A acusação foi feita na rua, cara a cara, com poucas testemunhas. Mesmo assim, viralizou. Imagine com “alta tecnologia”: tevê, jornal, internet, iutube, telegram, feice, redes sociais, milhões de seguidores. Se a acusação fosse postada aí, coitado do Zé Qualquer. Se culpado, fez por merecer. Mesmo assim, seria mais cristão chamá-lo, conversar, explicar e tal. Talvez voltasse mais fácil ao caminho “do bem”.
E se for inocente? Zé nunca roubou. Mas seu nome cai nessa malha internética, turbinada, como ladrão, asqueroso, satanás! E se o caso for à justiça, ele condenado em todas as instâncias exceto na última? Ninguém vai saber, porque a mancha ficou, impagável, na cabeça de milhões. Pior: ficou nos corações, humores e fígados. Não se apaga mais. Ah, Zé Qualquer é ladrão! Se quiser se candidatar, ninguém votará nele. Não se elege para nada.
Daí a pergunta: regula as redes sociais? Ou deixa à vontade a “liberdade de expressão”? Imagine essa ferramenta com um moleque (não é idade, mas falta de responsabilidade), que fala e desfala, acusa sem provas, lacra, arranja votos e se elege chefe, governador, deputado. Até senador - por incríveis 8 anos!