Existe uma velha ideia realmente velha e da qual precisamos nos libertar, porque nos tem feito muito mal. Para ajudar a entender, podemos fazer comparações: uma comida velha, com data de validade vencida. Você come e fica com dor de barriga e diarréia. Um carro velho, com pneus carecas, motor fundindo, e você entra nele para uma longa viagem. Vai ficar no caminho pedindo guincho, fazendo despesas e perdendo tempo.
Claro: uma pessoa velha é um ser humano, e não coisa. Dela você cuida, ouve suas histórias de vida, aprende. Não misturemos: gente não é objeto nem ideia.
Voltemos àquela velha ideia a que me referi acima. Eis: a de que somos inferiores, o tal complexo de vira-lata (com todo o respeito pelos nossos cães vira-latas).
Quando ela se aplica à política, é um desastre. Porque, nesse caso, vamos ficar dominados pelo que vem de cima, achando que é SUPERIOR. Principalmente agora, que se aproximam as eleições municipais, e ficamos esperando que os PARTIDOS nos ensinem a resolver nossos problemas. O PSD acha que é ele, o PL mesma coisa, e assim todos e cada qual: PT, PV, DEM, PFL, ARENA, MDB, etc. E, LÁ DE CIMA, nos jogam dentro dessas gaiolas, e estabelecem aquilo que eles entendem por: DIVIDIR PARA GOVERNAR.
Errado! Não é “dividir para governar”, é DIVIDIR PARA DOMINAR. O que devemos fazer é UNIR PARA GOVERNAR.
Porque senão ficamos nós cá embaixo divididos (e dominados), brigando uns com os outros, quando todos nos conhecemos, sabemos quem cada um é, com seus defeitos e qualidades, e poderíamos muito bem sentar em volta da mesa e discutir nossos problemas. CONVERSAR, e conversar muito. Para isso temos todas as vantagens que os LÁ DE CIMA não têm: somos vizinhos, sabemos os endereços uns dos outros, onde trabalham, temos os telefones, conhecemos os parentes, os inimigos na maior parte das vezes por bobagens fáceis de superar, nos encontramos nas ruas, padarias, botecos, velórios e não raro nas igrejas casando nossos filhos com as filhas dos adversários políticos.
Mas o complexo de inferioridade – ou de vira-lata – nos atrapalha perceber isso.
Nas eleições municipais é fácil ver como funciona. As REGRAS – que vêm lá de CIMA – nos obrigam a filiar em partidos. Filiados, automaticamente viramos adversários quando não inimigos (o que é bem diferente e pior) e fechamos todos os canais das CONVERSAS. Deixamos de fazer aquilo que é nossa grande vantagem: nos reunir para CONVERSAR, falar de nossas dificuldades e de nossas vitórias também. Mas, porque estamos filiados, ficamos a brigar porque um acha que o agro é pop e o outro que ele mata, um defende a privatização e o outro o estado mínimo, se vai ter quota ou não, se acaba com o bolsa-família, se vamos lutar pelo liberalismo ou pelo comunismo, etc.
Os problemas, porém, são muitos e bem diferentes dessa conversa fiada que nos impõem LÁ DE CIMA. Basta abrir os olhos para ver.
Nossa água, por exemplo. Temos que ver como preservar nossas nascentes. Vamos lotear o Capão do Caçador ou deixar a vegetação vir com força? E o barulho que azucrina nossas conversas diurnas e nosso sono noturno? E o lixo, esgoto, buracos, estradas? Precisamos de pontes, creches, UPAs? O que vamos resolver primeiro? Afinal, o dinheiro é curto. E donde mesmo vem esse dinheiro?
Precisamos conversar sobre isso. NÓS, que moramos em São Gotardo e gostamos de nossa cidade, queremos que ela seja o melhor lugar do mundo para se viver – e isso não impede que todas as outras cidades também sejam. Quando fizermos isso, com certeza teremos melhores deputados, governadores, presidentes.