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    Quarta, 27 Março 2024 21:33

    Política ou Guerra

    Um leitor me perguntou: por que você fala tanto em política? Tenho mil respostas, impossível colocar todas aqui, mas colocarei algumas. Por exemplo: acaba de passar na minha frente um carro com o som ligado lá em cima e tenho que esperar ele sumir para continuar a conversa. Este é um exemplo mínimo, que se torna grande porque pode ser multiplicado mil vezes numa cidade como a nossa. São muitos carros, e dentro deles uns motoristas que, parece, não acham que estão incomodando... ou talvez saibam que estão mas é isso mesmo que eles querem. Essa é uma questão política! Se não resolver com política, parte para agressão, tiroteio, bomba! Por aí, coisa que sempre é a minoria que gosta, a maioria não gosta de guerra!

    Se for feita uma pesquisa com bases científicas, meu palpite é que a maior parte da população está incomodada com os barulhos. Conheço uma pessoa que saiu de seu apartamento pagando 1.700 para se mudar para outro de 3.000 por causa do barulho, não só das motos, mas também dos carros de som fazendo propaganda de coisas em que provavelmente 99% da população não está interessada. E são obrigados a escutar, parando de falar ou ouvir enquanto passa a zoeira, e sem prestar atenção nenhuma. Os comerciantes bem poderiam se modernizar usando a internet para fazer propaganda!

    Mas a população é vítima de muitas outras agressões do tipo “poluição sonora”. Quantos vão dormir às 22 horas e já sabem: vai ter barulho até madrugada!... Alguns fecham a casa, torcendo para o som não passar pelas paredes... mas passa! Ele entra pelas frestas das janelas e portas. Outros tomam remédio para dormir ou passam acordados mesmo, e só depois de muita canseira dormem... mas aí o dia já está amanhecendo. Quem tem recurso, muda de residência.

    Nem todas as cidades são assim. Ouvi (sem comprovação!) que Carmo é tranquila. Dá gosto morar lá, porque a pessoa sabe que, depois do trabalho, ela pode chegar em casa e deitar e dormir, sem ter que ligar para a polícia pedindo providências... que quase nunca são chegam em tempo, não por culpa da polícia mas da quantidade de chamadas noturnas para atender.

    Já fiz abaixo-assinado, fui à Câmara de Vereadores, falei com pessoas da prefeitura, mas não consegui nada. Motoristas continuam passando nas ruas com um sonzão horroroso, bem nos nossos ouvidos, e acham que todo mundo está adorando aquela zoeira!

    Vai indo, claro, a gente se acostuma. E não nota mais. Se não nota, não reclama. Mas já está provado que boa parte da doideira geral que leva tanta gente ao psicólogo e a tomar remédios está ligada à poluição sonora, que se tornou tão normal que as pessoas aceitam. Tanto é que, quando vão à zona rural, estranham o silêncio.

    Mas o silêncio faz muito bem à saúde, não só física, do funcionamento dos intestinos, fígado, etc., mas também do psicológico, das emoções, da boa convivência. No entanto, esse silêncio não tem sido valorizado. Quer uma prova? Entre num supermercado, em certas lojas! O som está ligado durante todo o expediente. O freguês tem a vantagem de ficar um tempinho e ir embora. E a turma que fica lá o dia inteiro? Claro, talvez eles digam que a música distrai, etc. Sendo assim, nada a fazer!... A menos que percebam que dores de cabeça, insônia, brigas em família e outras doencinhas até mais graves têm a ver com a “música” com a qual se acostumaram.

    Esse é um assunto político, isto é, tem a ver com a polis, com a convivência na polis, que é a cidade. Ou você vai ao vizinho e pede para ele abaixar o som, ou ao gerente e faz uma reclamação, ou à Câmara de Vereadores e pede uma providência contra os barulhentos: isso É POLÍTICA! ... ou então parte para a guerra, muda de residência, ou vira imigrante: muda de cidade! Porque há cidades em que as leis são respeitadas, os infratores são punidos, as autoridades cumprem suas funções garantindo o silêncio noturno.

    Dei um exemplo (há muitos outros) de algo bem concreto que tem a ver com política. Sem política, o problema se agrava. E quem são os políticos? Todas as autoridades! ... de forma direta vereadores e prefeitos, ou de forma indireta delegados, policiais, promotores e juízes. E mais indireto ainda: professores, advogados, médicos e... no final... todos! Ninguém escapa, ou como agressores ou como vítimas.

     

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