Primeiramente vamos torcer para a Natureza funcionar conforme regras aprovadas há milhares de anos segundo as Escrituras; ou bilhões segundo a Ciência. De qualquer forma, pelo que falam nossos avós, a estação das chuvas era tranquila: umas pancadas em agosto, em setembro podia-se plantar, de novembro a janeiro invernava dias e noites sem parar, aquela chuvinha mansa que exigia capas, galocha e guarda-chuva – hoje objetos de museu. Nas roças, sabia-se que no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, ainda se podia plantar milho porque não faltaria água – do céu e não dos pivôs. A enchente de São José em 19 de março marcava o fim da temporada chuvosa.
Mudou? Quem nasceu no século XXI não nota, mas a turma do século passado com alguma ligação com a terra sabe da importância das chuvas. Mas a da cidade detesta, e com razão porque atrapalha andar nas ruas, viajar, ir a festas, etc.
Daí a necessidade de ensinar nas escolas para as crianças que chuvas são importantes. E que elas estão intimamente ligadas às árvores. Não só de árvores distantes na Amazônia ou Indonésia (lá também), mas das nossas aqui, nas ruas para dar sombra a nossos veículos, e nas fazendas alimentar as nascentes, embelezar rios e córregos, diminuir as temperaturas ambientes cada vez mais elevadas.
Ainda está em tempo de mudar nossa paisagem. Para isso precisa antes mudar a mentalidade. Vou dar dois exemplos para explicar a ideia. O primeiro foi o que aconteceu comigo quando adquiri meus hectares no Borrachudo. Mais ou menos metade da área era ocupada por uma matinha rala, onde as vacas circulavam aproveitando algum capim meloso que brotava daqui e dali. Meu pai, nascido e criado na roça, aconselhou: corta e faz pasto. Você ganha dinheiro com a madeira, depois com gado de leite ou corte. Não segui o conselho, comprei mais alguns hectares de pasto do vizinho e deixei tudo virar mato: vaca não entra mais. Na linguagem antiga: “sujou”.
Segundo exemplo encontrei na região conhecida como “Rabo-de-Tatu”. Muito bonita, mas a im-pressão que tive foi de terra sofrida, expropriada de suas árvores. Lá, numa área de 4 hectares, Jor-dano(foto ) plantou 500 mudas de mogno e outras variedades (foto) em meio à sua pequena lavoura de café – que vai desaparecer quando as árvores crescerem. E já arou a parte aproveitável restante para plantar mais 2.000 mudas. Ao ver o terreno arado, um vizinho perguntou que semente de capim ele iria semear. Ao ouvir “vou plantar árvores”, custou a acreditar. Como? Vai desperdiçar o terreno?
Entende-se que proprietários tenham suas razões para pensar em tornar sua área mais rentável. Mas aí está o “pulo do gato”. Essa mentalidade precisa mudar. Meu pai achava que metade do meu terreno estava “suja”. O vizinho do Jordano acha que ele, ao plantar 2.000 árvores, vai “sujar” o terreno.
Para ser justo com a memória, devo dizer que meu pai me deu razão anos depois. Ele mudou a mentalidade ao ver o sítio bonito, agradável e com a nascente bem protegida à esquerda e à direita. O sítio pode não ser o mais rentável para mim a curto prazo, mas é rentável para todos a longo e imediato prazo também: produz temperatura, ar, água, beleza, e a Natureza agradece e não nos surpreende com catástrofes.
Que tal: vamos plantar?
Para conseguir mudas, procure o Ronaldo no viveiro do Proman; ou o Belchior no Viveiro do Cerrado (perto da rotatória em frente ao Parque de Exposição), telefone 34 99822 3497; ou ligue para a Futuro Florestal celular 14 99761 0165.