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    Sábado, 20 Julho 2024 22:01

    Conversas conversas conversas políticas

    Essa história de “política não se discute” está ficando superada. Todos discutimos política. Meu amigo Márcio Moreira diz que até em casa, com a família, tem política. E ele me demonstrou isso de maneira indiscordável (não dá para discordar).

    Veja: você quer pegar o dinheiro do mês e torrar em cachaça; sua companheira não concorda. Vocês terão que negociar. O dinheiro é para o leite das crianças, argumenta ela. E vão fazendo essa “política” até chegarem a um acordo. Se não, o pau quebra. Existe felizmente a Lei Maria da Penha. Melhor é debater – com educação, sem levantar a voz – e dividir o dinheiro de tal forma que se compre o leite primeiro, e se sobrar, tudo bem, divertir faz parte da vida. Boa política é assim.

    Claro, existe a má política, aquela que leva a brigas, feminicídio, armamento, guerras – mas desta não vamos falar neste curto espaço. Aliás, o mundo está cheio dessa má política, e feita por engravatados, graduados e condecorados por eles mesmos. Deixemos para lá esses, vamos falar da maioria absoluta, nós mesmos, povão.

    Estamos assumindo finalmente nossa posição de – sim, política, muita política – queremos botar nossos nomes à disposição para vereador e prefeito e as nossas caras a tapa, dispostos a encarar as redes sociais, as conversinhas, as feiques.

    Ora, um pouquinho de História (com maiúscula) ajuda a entender a importância do que está acontecendo. Vamos recuar 500 anos, o tempo de nossa história “civilizada”, européia. Não existia eleição, os chefões nasciam eleitos, nomeados por Deus (eles diziam). As coisas eram resolvidas por barões, príncipes e reis. Isso durou até 1889, quando inventaram a “coisa pública”, com o nome importante de REPÚBLICA, e aí o povo é que escolhe: vota! Até 1934, metade da população era proibida de votar: as mulheres. Brasileiros analfabetos (capazes de decidir eleição: são milhões) só puderam votar em 1985. Agora o voto é universal. TODOS podem votar a partir de 16 anos, idade em que o indivíduo, supõe-se, tem discernimento para dizer: aquele me representa, voto nele!

    Quando a comunicação era feita na base do estafeta, as pessoas demoravam a saber das notícias, que andavam devagar, vinham escritas, excluindo a maioria do povão. Hoje elas vêm no zape, quase em tempo real. E não precisam ser lidas, são escutadas.

    Isso, provavelmente, converteu todo mundo em, senão político, pelo menos politiqueiro. Damos palpite sobre todos os assuntos, mesmo sem saber nada, ou “sabendo” por fontes sabidamente mentirosas. Caímos nas mentiras – agora chamadas feiquinius – feito patinhos. Mas não tem importância: cair nas mentiras e passá-las adiante faz parte. Falar patacoadas sobre saúde, educação, segurança, privatização, cassação, impichamento virou conversa de cozinha, boteco, calçada de casa lotérica, banco de jardim.

    Então, temos mais é que festejar e acompanhar nas tevês, rádios e imprensa local os candidatos falando o que fizeram e vão fazer, apresentando projetos de governo.

    Com certeza, vai chegar a hora em que vamos topar com a caixa preta do dinheiro. Quanto tem para fazer o que queremos? Contratar médicos, enfermeiros, auxiliares, comprar isso e aquilo, reformar, fazer pontes, tapar buracos, aumentar salários, etc.? E quando descobrirmos que precisamos de 1 milhão e só temos 100?

    Voltamos para a disputa do marido querendo tomar cachaça com o dinheiro da família, e a esposa dizendo que é para o leite das crianças. O dinheiro não dá para tudo, e a decisão é política. E quando descobrirmos que os juros consomem quase todo nosso dinheiro? São bilhões (em 2023 foram 718)! E que isso tem a ver com Banco Central, taxa Selic, 513 deputados e 81 senadores que DECIDEM se gasta em cachaça ou leite?

    Sim, seremos cada vez mais politiqueiros para abrir essa caixa preta. Queremos dinheiro para o SUS, escolas, estradas etc. E saber de onde vem essa dívida e por que esses juros são tão altos.

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