Somos movidos por 4 tipos de alimentos. O primeiro é o arroz-feijão fácil de entender. Vamos chamá-lo de sólido, embora ele possa entrar pela boca em forma de leite, vitamina ou sopa. Equivale à gasolina: tanque vazio, carro não anda.
O segundo é o líquido, na verdade água, ou H2O, que pode se disfarçar como coca, guaraná, sprite, qualquer refrigerante. Se faltar, só sobra esqueleto.
O terceiro é o gasoso: ar, oxigênio. Sem ele, morre-se em minutos. Não o enxergamos como a uma comida no prato ou uma água no copo. Mas o sentimos na ventania, no mau cheiro, e com alguma experimentação científica podemos provar sua existência: como na água encanada que pára de correr porque “tem ar”.
Quanto ao último, o etéreo, merece análise à parte pois é mais difícil percebê-lo como alimento. E, para a saúde física e mental, é importante escolher o alimento certo.
Dos três primeiros, temos consciência clara da sua importância: damos dinheiro pelo sólido, menos pela água, e (por enquanto) nada pelo ar. Precisamos torcer para que as coisas continuem assim. Há cem anos, água era de graça. Hoje virou mercadoria – cada vez mais cara. Imagine daqui uns tempos pagar para respirar! Aliás, quem foge da cidade grande para o mato para respirar ar puro já está pagando a viagem e a pousada!
Mas e o etéreo? Onde encontrá-lo? Como demonstrar que existe?
Em primeiro lugar, seguindo a lógica: vive-se semanas sem o sólido; dias, sem o líquido; minutos, sem o gasoso. Então, na sequência, o tempo do etéreo é de segundos. Os três primeiros têm uma certa materialidade. É possível pesá-los, medi-los, engarrafá-los. Já o etéreo é imaterial. Poderíamos, na falta de melhor nome, chamá-lo de mental, ou espiritual, embora para demonstrar sua existência tenhamos que recorrer a palavras como formas, imagens, sensações, percepções.
Impossível viver sem enxergar formas e imagens, sem experimentar o frio e o calor, sem sentir os cheiros e os sabores, sem ouvir os sons, sem deixar-se afetar pelas percepções de tudo que acontece em volta. Se isso por alguma infelicidade acontecer, a vida cessa. Pode-se, por um acidente, perder por exemplo a visão. Deixar de ver as coisas. Mas o corpo desenvolve um mecanismo compensatório e passa a ouvir mais.
O fato é: se o máximo que conseguimos ficar sem esse alimento é de segundos, significa que estamos sempre sedentos dele, chamemo-lo etéreo, imaterial, espiritual, seja lá que nome se queira dar. Sedentos, sôfregos, famintos!
E aí mora o perigo! Quem está esfomeado come qualquer coisa. Porque não vão faltar os que saberão aproveitar dessa imensa fome para oferecer exatamente o alimento: imagens, cores, formas, música, filmes, propagandas, shows, concertos, jogos, espetáculos. E vão disputar sua atenção apelando a todos os recursos disponíveis.
São muitos. Desde os carros de som buzinando no seu ouvido: compre! compareça! você não pode perder! Até os outdoors, as faixas, os filmes do Capitão América: vinte e tantos, cheios de emoções, tiroteios, armas, acaba um, vem outro. Ou esses livros de 800 páginas, em que cada capítulo joga uma isca para o seguinte, numa sucessão de acontecimentos fantásticos que nunca acaba. Ou as celebridades que o convidam para serem seus seguidores nas redes, no instagram, no Faustão.
Outro perigo: quanto mais se ingere porcaria, mais predisposto se está para consumir mais. Ora, pensando na saúde, temos cuidado ao escolher a melhor comida, água sem poluição, ar limpo. Seria interessante termos também essa preocupação na hora de consumir os alimentos etéreos, mais sutis, mais difíceis de ver neles o perigo. Vagar por aí consumindo tudo que lhe oferecem na tevê, no netflix, no youtube, nas redes, nos outdoors, nas ruas, e até – convenhamos! – nas rodas de conversa, não faz bem ao corpo. Nem à cabeça! Comida ruim pode dar dor de barriga ou fazer de você um completo idiota.