Acabei de ler “Capitão de Castela” (650 páginas). Na verdade, reler. Já o havia lido há anos, num exemplar antigo. Sumiu, mas consegui comprar outro via internet, e fico grato a essa tecnologia por isso. O pano de fundo é a conquista do México pelos espanhóis em 1500, graças aos trabucos e canhões de Hernan Cortéz contra as flechas e lanças dos índios.
A história tem um herói, Pedro Garcia, que se envolve numa trama amorosa com a marquesinha Luísa de Carvajal e uma mulher comum, do povo, Catana Pérez, que vence a parada e se casa com ele. Mas antes têm que fugir da Espanha para salvar a pele da então chamada “Santa” Inquisição, entidade católica encarregada de manter as consciências das pessoas afinadas com os dogmas da igreja. Mas servia também para perseguir inimigos políticos – que é o caso da família Garcia –, conforme os interesses de bispos corruptos e seus aliados.
Consultei muitas vezes o dicionário, aprendi palavras como “sambenito” (roupa que penitentes condenados pela Inquisição usavam), “marrano” (xingamento contra mouros e judeus, excomungado, sujo), “poterna” (porta falsa que permite sair secretamente). E muitas outras!
Também tive aula de história, filosofia, sociologia – sobre conquistas militares, superstições, mentalidade atrasada de uma época que talvez dure até hoje. Por exemplo: eram normais os espetáculos de tortura, enforcamentos, decapitações, tudo feito na praça. O povo apreciando, inclusive crianças! Acompanhei as safadezas dos “civilizados” para imporem sobre os “bárbaros” – no caso os aztecas – as suas crenças e a sua dominação, que eles, conquistadores, consideravam vantajosas. Claro, levaram, em nome da fé e do progresso, toneladas de ouro para a Europa.
Pode-se considerar isso como “benefícios da leitura”? Sem dúvida.
Eu poderia ter visto um filme, aliás existem vários sobre o assunto. Mas preferi ler, embora nada tenha contra os filmes. É que o livro fala o que o filme fala e muito mais!
Tentemos convencer o leitor a respeito de “algumas” vantagens.
Ao longo de 650 páginas tive de me recolher, em silêncio, e prestar atenção nas frases, nos sujeitos e objetos, na colocação dos termos, nas inversões, nos parágrafos. Acha que é fácil? Aí é que está: você desenvolve habilidades importantíssimas para tudo: atenção, concentração, paciência, persistência. Enquanto estiver lá, parado (feito um idiota, muitos dirão), não poderá fazer nada: ver televisão, atender o celular, fazer joguinho, passar mensagens, até ouvir musiquinha de fundo atrapalha.
E uma coisa fantástica estará acontecendo na sua cabeça, isto é, na sua inteligência: sua imaginação vai construindo as imagens do que está sendo contado no livro, articulando as idéias nele expostas ou sugeridas. Sem perceber, você está treinando uma coisa que todos falam que é bom mas só de boca para fora: sua inteligência.
De brinde, ainda ganhará competência em Português. Aprenderá de verdade a sua língua, uma das principais ferramentas para batalhar a vida. Ou seja: poderá se comunicar mais fácil, falando e escrevendo, entenderá melhor as coisas, apreciará mais o silêncio, a meditação, e ficará livre de muitos vícios horrorosos.
Cito alguns, para concluir: ver televisão compulsivamente, não conseguir viver sem ligar o som, falar feito maritaca, beber sem parar quando fica sozinho, fingir que escuta, decorar as coisas em vez de entendê-las. Por aí vai.
Claro: é possível viver sem ler. Afinal, conforma-se com tudo na vida, até com a ruindade.