Recentemente ouvi no rádio um boletim informativo emitido pela CNI – Confederação Nacional da Indústria – que dizia de uma forma positiva que o custo da força de trabalho tinha sofrido uma redução de 16% e que, portanto, o custo de produção da indústria teria apresentado uma redução. O resultado disso, de acordo com a opinião da CNI, era que poderia gerar um novo momento de crescimento do investimento.
Até esse ponto não está mostrando nada de novo.
A questão que gostaria de levantar é a maneira como uma informação pode ser trabalhada. Pensar que uma redução de 16% no custo da força de trabalho é um sinal positivo para a atividade empresarial já que isso reflete uma redução de custo? Como sempre, não uma resposta simples, ou seja, a resposta seria sim e não!
Vamos por partes. Se a resposta é sim implica dizer que, uma redução nos custos de produção, considerando a estrutura concentrada da indústria brasileira, ou seja, os preços não sofrem uma redução com a diminuição dos custos, aumentará a margem de ganho do industrial. Daí se entende a maneira tão auspiciosa como a notícia foi anunciada no rádio.
Agora a outra parte. Se a resposta é não, uma redução no custo da mão de obra significa que o salário, que é a renda do trabalhador está em queda. Salário em queda, por sua vez, implica em menor demanda. Menor demanda, menores vendas. Assim, a expectativa de maior ganho, dado que o custo foi menor, não se efetiva. Torna uma vitória de Pirro.
Mas, (sempre existe um mas...) alguém poderia argumentar que, conforme nos diz os dados do CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Emprego – no mês de setembro a economia brasileira gerou um saldo positivo de 157 mil novos empregos e que podemos nos alegrar já que a economia está se recuperando.
Na verdade, tudo gira em torno da forma como interpretamos a realidade que nos cerca.
Esse saldo positivo de novos empregos em setembro representa um crescimento de 0,4% no emprego. Sem querer sem desmancha prazer, ainda não é possível afirmar que esteja ocorrendo uma recuperação na atividade econômica ainda mais que, conforme notícia recente, o FMI – Fundo Monetário Internacional – prevê que o Brasil somente conseguirá se recuperar economicamente a partir de 2024. Está perto e ao mesmo tempo está muito longe. É perto talvez para alguém do governo, mas extremamente longe para quem está desempregado.
Já que estamos falando do CAGED, vamos ver o que está acontecendo em São Gotardo. Quando olhamos os números para setembro o que vemos não é animador e não permite ter o mesmo otimismo que alguns setores da imprensa e de representantes da indústria e governo.
Em setembro houve uma perda líquida de empregos na nossa cidade. Foram gerados 473 novos empregos enquanto foram fechados 748 postos de trabalho, ou seja, uma redução de 275 empregos, que representa uma variação de -3,33%. Agora, o que mais preocupa é que o setor agropecuário, atividade predominante aqui, foi o que mais demitiu, apresentando uma queda de 8,23% no emprego. Também a construção civil, setor que normalmente absorve muito trabalho, apresentou uma variação de -4,21%. Os demais setores apresentaram variações pífias.
Nos doze últimos meses, a variação acumulada foi de -2,68%. Preocupante.
O fato é que ainda é cedo para fazer qualquer afirmativa sobre a recuperação da economia. Não é possível acreditar piamente em algumas notícias que lemos ou escutamos. É possível que seja uma recuperação, apesar de muito, mas muito, tímida. Afinal, se a taxa de desemprego está por volta de 12% da força de trabalho, uma variação positiva de 0,40% não faz muita marola não.
Mas (aqui está o "mas" novamente...) pode ser um crescimento meramente conjuntural. Afinal, no segundo semestre sempre há uma tendência de crescimento no emprego. Temos o dia das crianças e quanto mais próximo do final do ano, maior o estímulo para a contratação temporária de trabalhadores se pensarmos no natal.
Uma coisa é certa e já vem sendo certa há algum tempo, infelizmente. Não há nenhum esforço por parte do governo federal em estimular o crescimento do emprego. Não está sendo feito nada a esse respeito a não ser esperar que a iniciativa privada faça alguma coisa. Já a iniciativa privada, o famoso mercado, está esperando o governo fazer alguma coisa. Fica parecendo briga de criança...vai você!! Não, vai você!!!!
É desse jeito: vamos deixar do jeito que está para ver como que fica...
O medo é perceber que 2020 já tenha terminado muito antes de começar. Será que não dá pra ir direto pra 2024 não???