Chega um momento da vida em que se costuma cair na rotina.
Não sei se é uma boa situação ou não é. Por um lado, se pode pensar em uma vida sem sobressaltos, sem sustos, onde prevalece a máxima de uma música que diz que devemos deixar a vida nos levar. Cairemos, dessa forma, em um ciclo virtuoso de uma vida que não se modifica.
Porém, por outro lado, podemos perder a capacidade de modificar a vida, de criar alternativas para nós mesmos. A rotina pode nos prender em um círculo vicioso do qual teremos dificuldades em sair.
Por que estou falando isso? As razões são simples e ao mesmo tempo preocupantes.
Temos que sair da rotina. Nosso tão combalido país precisa ser revigorado. Precisamos tomar um choque de realidade e perceber que temos muito o que fazer para andarmos novamente em direção ao crescimento e mesmo em direção a um desenvolvimento social.
Não podemos mais ficar parados, presos em uma discussão que se mostra cada vez mais infrutífera.
Estamos, cada vez mais, nos afundando em uma ideologia que a história já mostrou que é falha, que é insuficiente para colocar o Brasil em uma nova etapa de crescimento econômico.
A ideologia liberal, ou liberalismo, como é comumente chamada, assumiu o papel de discurso ideológico preponderante na sociedade brasileira. Em termos de questões econômicas, o liberalismo apregoa aos quatro ventos a virtude da iniciativa privada em detrimento da ineficiência do Estado como indutor e mantenedor do crescimento econômico.
"Devemos reduzir o tamanho do Estado", gritam uns. "Devemos retirar as amarras que limitam as ações do empresário", berram outros. Outros mais exaltados gritam "criamos um monstro" se referindo ao Estado. E por aí vai...
Podemos fazer algumas perguntas simples a esses tão exaltados. Primeiro. Considerando a atual elevada taxa de desemprego que faz com que a oferta de trabalho (os trabalhadores) se torne maior que a demanda por trabalho (os empresários) e, como nos ensina a economia liberal, o preço desse produto, o trabalho, tende a se reduzir como de fato está acontecendo.
Hora, se o salário está em queda e seguindo a lógica liberal, porque os empresários não seguem essa cartilha e demandam mais trabalho? Afinal, trabalho é um custo e um custo menor implica um estímulo para produzir mais. No entanto, quando olhamos a taxa de desemprego iremos perceber que isso não está acontecendo.
Os exaltados então gritariam: " o Estado atrapalha cobrando impostos". Outros, mais radicais gritam: "imposto é roubo". "Temos que reduzir o Estado e reduzir os impostos", berram outros. No entanto, esquecem que nossa estrutura tributária é altamente regressiva e que incide basicamente sobre a renda e o consumo e proporcionalmente menos sobre a produção.
Ainda insistindo gritam mais alto: "O Estado cria amarras para as contratações de mão de obra." "Temos que reduzir o custo das contratações", dizem outros. Mas em 2016 foi aprovada a reforma trabalhista que fez exatamente isso e não foram gerados novos empregos. Aqui escutamos grilos estridulando (santo Google...) e vemos um monte de gente fazendo cara de paisagem.
"O Estado", insistem, "tira as oportunidades de novos negócios e, portanto, temos que privatizar". "Porque o Estado tem que produzir se é ineficiente?" Gritam alguns. A história recente do nosso país, com as privatizações que ocorreram no passado mostraram somente que o preço dos serviços privatizados aumentou e a qualidade cresceu igual rabo de cavalo. Se não concordam com isso, olhem para a fatura do serviço de celular e pensem no tanto que é difícil conseguir sinal em alguns lugares da cidade.
A questão básica é simples. Para tirarmos a economia da crise atual é necessário um impulso inicial e esse impulso chama-se investimento público. A história econômica mundial nos mostra a importância do investimento público como indutor do crescimento. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e principalmente a China, são exemplos claros do esforço do Estado como fator do crescimento econômico.
O discurso liberal em voga no Brasil funciona mais ou menos assim. "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço." Isso implica dizer que estamos caminhando rapidamente para nos tornarmos não uma Venezuela como dizem os críticos, mas uma Argentina onde o principal problema deixou de ser o emprego e passou a ser a fome. É chocante ver que um país que já apresentou no passado uma qualidade de vida próxima dos países do primeiro mundo está, nesse momento, discutindo como acabar com a fome dos seus cidadãos.
Não se esqueçam. A política adotada na Argentina de Macri é a mesma adotada no Brasil de Bolsonaro e nos últimos três anos o Brasil voltou a fazer parte do mapa da fome no mundo.
Nem sempre a grama do vizinho é mais verde.