O mês de outubro foi agitado.
Passamos por uma mudança drástica nos noticiários. Notícias de uma guerra que já se arrasta por um bom tempo, que é a guerra da Rússia e Ucrânia, foram substituídas por uma nova guerra que começou com um ataque do Hamas ao Estado de Israel e, óbvio, a resposta mais que proporcional de Israel a esses ataques.
O que aconteceu em outubro é mais uma passagem de algo que se arrasta a várias décadas e com certeza não será o último. Isso se sobrar algum palestino para contar a história.
Fatos como a invasão da Ucrânia pela Rússia, o conflito interminável entre Israel e a Palestina devem ser entendidos a partir de vários aspectos, tanto políticos, sociais e econômicos. Não há uma resposta única para o que vivemos.
Estamos vivendo uma época na qual percebemos o início do fim de uma hegemonia. Os Estados Unidos, que construíram essa hegemonia a partir da bala e do dólar, começam a sentir uma redução, mesmo que pequena, da sua capacidade de intervenção sobre o resto do mundo.
Quando digo bala e dólar, temos que entender a importância dos elevados gastos na área bélica e a imposição do dólar como moeda de troca internacional. E é exatamente nesse ponto que a hegemonia estadunidense começa a enfraquecer.
À medida que alguns países começam a adotar outras moedas para suas trocas, suas importações e exportações, o dólar começa a perder força e, portanto, perde força a capacidade dos Estados Unidos em transferir para o resto do mundo suas crises internas.
E quem ganharia com esse enfraquecimento do dólar? Todos os países que utilizassem outra moeda? Ou nem todos? Na verdade, trocar o dólar por outra moeda somente muda geograficamente a localização do país hegemônico e aqui estaríamos indo da América do Norte para a Ásia, já que estamos falando da China.
São vários os fatores que dão à China esse papel de primeiro da fila na disputa por essa hegemonia. Suas elevadas taxas de crescimento econômico, sua enorme capacidade de importação e de exportação e, ponto importante, um crescimento econômico que se contrapõe ao discurso liberal dominante que defende o afastamento do Estado da economia.
A China vem mostrando há vários anos que esse discurso é um erro. Exatamente pelo fato de que o estado chines atua diretamente na economia é o que permite a manutenção das elevadas taxas de crescimento econômico. E também, não podemos esquecer, político. O crescimento do Banco dos Brics, a nova rota da seda, são páginas que estão sendo escritas.
As ações do governo americano quando a invasão da Ucrânia pela Rússia e suas tentativas de inundar a Ucrânia de armamento e de dinheiro, usando para isso uma Europa esgotada, se mostraram ineficazes para encerrar a guerra. Ela não acabou. Só deixou de ser importante para os noticiários.
Por sua vez, a defesa intransigente de Israel pelos Estados Unidos mostra a necessidade cada vez mais de sustentação, pelo governo Biden, de suas posições naquela região e para isso a importância geopolítica de Israel é fundamental. Não é à toa que Israel tem um dos maiores exércitos do mundo. Armamentos comprados, é claro, com dólares americanos.
Alguns primeiros capítulos de uma história trágica vêm sendo escritos. Resta saber como será o capítulo final. A história (sempre ela!) nos mostra que no passado, os capítulos finais de histórias assim não foram muito bonitos de ser ver.