Agora o ano de 2023 pode começar. Como sempre foi dito, o ano somente começa após o carnaval e, portanto, chegou o momento de pensarmos como resolver os grandes e graves problemas que foram se acumulando nos últimos seis anos.
Temos uma taxa de desemprego elevada e que, apesar dos indicadores do mercado de trabalho mostrarem, nos meses finais do ano passado, uma pequena recuperação no nível de emprego, temos que pensar essa questão em seu todo. Não somente pensar nessa recuperação do índice, que, sim, é importante, mas pensar também que a maior parte do desemprego que o Brasil hoje apresenta diz respeito a empregos de baixa qualidade, com remuneração também baixa, uma alta taxa de trabalhadores no mercado informal e também, infelizmente, uma alta taxa de trabalhadores em uma situação chamada de “desalento”, ou seja, trabalhadores que perderam o emprego há um bom tempo e perderam, o que é pior, a esperança de conseguirem retornar ao mercado de trabalho formal.
Isso significa dizer que o Brasil precisa e de forma urgente, melhorar a qualidade do emprego que está gerando. Temos sempre que pensar que questões como essa impactam, não somente o bem estar do trabalhador, mas também impacta positivamente nos níveis de venda da atividade comercial.
É uma reação em cadeia. Salários maiores, melhor consumo, melhores vendas, maior produção, maior arrecadação. Enfim, um círculo virtuoso que muitos se recusam a aceitar, considerando que salário é custo e não renda e, por ser custo, deve ser reprimido absolutamente.
Um verdadeiro tiro no próprio pé.
Uma notícia boa que tivemos nesse início de ano será a correção da tabela de retenção do imposto de renda a partir de maio e a projeção que se faz é cerca de 13 milhões de pessoas deixarão de pagar imposto de renda e, portanto, poderão utilizar esse recurso adicional para o consumo e para a redução de seu endividamento.
Outro ponto que devemos resolver e que foi motivo de muita polêmica ao longo do mês passado foi a questão da taxa de juros e da taxa de inflação. O Brasil hoje apresenta a maior taxa de juros reais do mundo, absurdos 8% ao mês, diante de uma inflação que não é de forma alguma provocada por um excesso de demanda, ou de consumo, que jogaria os preços para cima e, portanto, justificaria a elevação da taxa de juros pelo Banco Central dito independente para controlar a inflação. De forma alguma a inflação brasileira hoje é decorrente de uma inflação de demanda e sim uma inflação de custos, provocada por um aumento nos custos de produção e do processo especulativo sobre os alimentos.
Não é possível pensar em crescimento econômico com uma taxa nominal de juros de 13,75% e, como já dito, descontada a inflação, uma taxa real de juros de 8% ao mês.
E é exatamente disso que precisamos. Crescer, gerar emprego, gerar consumo e gerar capacidade de poupança para os brasileiros e nesse momento, a solução para esses problemas passa pelas mãos do Estado, da capacidade do Estado de gerar crescimento através dos seus gastos.
Não é possível pensar em uma recuperação econômica decorrente de maiores investimentos do setor privado. A lógica é simples. Com renda baixa haverá pouco consumo. Pouco consumo, poucas vendas. Desemprego elevado com inflação alta. Todo esse cenário desagua em um baixo nível de expectativas de vendas e o investimento privado depende das expectativas dos empresários. Baixas expectativas, baixos investimentos e taxa de juros elevadas, o empresário mantem sua rentabilidade em aplicações financeiras e não em investimentos em produção.
Uma bola de neve que cresce continuamente.
Como todo o resto do mundo, o crescimento econômico tão desejado e esperado dependerá do Estado. E antes de começarem as críticas sobre o gasto público, olhem para o nosso grande irmão do norte. O Governo estadunidense está gerando o maior programa de investimento público da história americana. São alguns bilhões de dólares para estimular o crescimento da economia.
E nesse momento, concordo com aquela antiga máxima que diz que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.