Vamos imaginar que estejamos assistindo uma novela mexicana daquela bem dramáticas. Uma mocinha sofre nas mãos da vilã da novela. Ela, a mocinha, apaixonada pelo galã, mas tem a vilã como sua grande rival na disputa pelo amor do bonitão.
A vilã descobre, por vias tortas, um segredo no passado da mocinha, segredo esse escondido a sete chaves. Como não poderia deixar de ser, a vilã usa esse segredo como uma grande chantagem obrigando a mocinha a renegar o amor do galã, deixando-o desesperado e, claro, buscará consolo para sua dor nos braços da vilã que nesse momento se passará como uma pessoa compreensiva e disposta a curar o sofrimento do abandonado.
A história se arrasta por vários capítulos. O galã passa a dedicar à mocinha um ódio mortal que é induzido pela vilã travestida de boa moça.
Muitas voltas e reviravoltas acontecem. Como muito esforço a vilã consegue obter do galã uma promessa de casamento e nos capítulos finais, às vésperas desse enlace fatídico que todos sabem que não dará certo, todo o mistério é solucionado.
O grave segredo da mocinha é revelado e se percebe que não é algo tão grave assim e muitas lágrimas depois, o casal fará as pazes e o último capítulo é dedicado a mostrar a todos a felicidade do casal e depois de uma cena mostrando um belo por do sol aparece na tela.
Fim
Toda essa volta é para percebermos o que já vem acontecendo a muito tempo com a relação entre o mercado financeiro e o governo federal.
Quando falo que acontece já a muito tempo, teríamos que voltar até o primeiro e segundo governo do Presidente Lula, passando pelo governo Dilma, uma trégua nesse dramalhão é percebida nos governos Temer e Bolsonaro para voltar com força no atual mandato presidencial.
Estou falando das inúmeras chantagens feitas pelo mercado financeiro a cada anúncio governamental que envolva aumento de gastos a começar ainda no ano passado com a discussão da então chamada PEC de Transição, necessária para garantir o pagamento do auxílio governamental às pessoas mais carentes, auxílio esse prometido pelo governo passado, mas que não foi contemplado no orçamento da União.
A cada anúncio de qualquer tipo de gasto o mercado financeiro reage e o câmbio aumenta e a Bolsa de Valores cai. Nesse momento entra em ação uma parte da imprensa que atua como porta voz da tão conhecida avenida Faria Lima em São Paulo. As notícias se tornam catastróficas. O dólar subiu, apregoam desesperados. A Bolsa caiu, anunciam se descabelando. Haverá fuga de capitais, choram desesperados.
É o fim do mundo. É o fim dos tempos.
Estarrecidos todos começam a rezar desesperados, acumulam alimentos em casa para se prevenirem de uma grande convulsão social. Sonos são perdidos...
Exageros à parte, no dia seguinte tudo volta ao normal. O dólar se estabiliza, a Bolsa de Valores se estabiliza, a grande imprensa faz cara de paisagem assobiando uma musiquinha como se dissesse: quem, eu????
No dia 8 de janeiro assistimos, estarrecidos e em choque, uma tentativa de golpe de Estado que felizmente não deu certo.
E o “mercado”? Nada. A segunda-feira começou como se nada tivesse acontecido.
Todas essas reações do câmbio e da Bolsa de Valores não passam de chantagens baratas de um setor da economia que busca manter seus ganhos a todo custo, mesmo que esse custo implique em manter ou mesmo aumentar o grau de penúria de uma grande parte da sociedade brasileira.
É mais ou menos assim: primeiro os meus, depois os teus...
Esse dramalhão mexicano não terá fim. Se arrastará por todos os quatro anos do governo Lula. A chantagem do mercado financeiro continuará sempre que for anunciado um novo tipo de gasto na área social.
Infelizmente.