Recentemente vi em algum lugar uma pequena charge que mostrava uma conversa entre dois homens. Eles se encontram e um deles pergunta ao outro se está tudo bem, como dois amigos que conversam de forma corriqueira. O outro responde que sim, que está tudo bem. Após um quadrinho onde os dois personagens se olham em silêncio, o que tinha feito a pergunta inicial afirma: "acho bom você se informar melhor".
É uma charge que mostra uma realidade cruel que estamos vivendo. O fato é que não está tudo bem. O Brasil vive um momento de extrema angústia onde problemas que já eram graves se agravaram ainda mais.
A economia brasileira, para usar um termo corriqueiro, continua derrapando. Estamos diante de uma grave situação na qual o sistema financeiro drena uma boa parte dos recursos que poderiam ser utilizados como investimento e consumo.
No Brasil de hoje, 64 milhões de pessoas estão endividadas e sem condições de obter crédito. Inúmeras pequenas empresas estão também endividadas e, portanto, sem condições de investir, de crescer e de gerar empregos. 16% do PIB brasileiro é transferido anualmente das famílias e das empresas para os bancos. O governo federal gasta, por ano, cerca de R$400 bilhões como pagamento dos juros da dívida mobiliária interna.
A capacidade de arrecadação da União, dos Estados e dos municípios vem caindo em função da retração econômica. O desemprego continua elevado e não dá sinais de queda no médio e longo prazo, apresentando no máximo algumas variações conjunturais de curto prazo. Afinal, é normal que na época do natal o volume das vendas e o nível de emprego cresça pontualmente. Mas se retrai novamente.
Temos um sistema tributário bastante regressivo, o que significa dizer que aquelas pessoas que ganham menos pagam mais impostos em relação àquelas pessoas que ganham mais. Os bancos, por sua vez, nem se preocupam com isso.
A crise social e moral é assustadora. Ódio, rancor, preconceitos, são manifestados abertamente e sem nenhum pudor. As redes sociais se tornaram terra de ninguém onde todos falam as maiores atrocidades. Pessoas se divertem vendo as tragédias que marcaram o ínicio desse ano. Mais uma barragem estourou por pura negligência de uma empresa mineradora matando mais de uma centena de pessoas sem contar aquelas que ainda estão desaparecidas e garotos foram queimados vivos em função de mais uma gambiarra feita por alguns dirigentes de um clube de futebol e torcedores faltaram dizer "bem feito"...
O brasileiro parece que anda anestesiado, vivendo como se conduzidos pelo piloto automático. Estamos andando, não se sabe se para a frente, sem pensar no caminho que estamos seguindo.
O novo governo que tomou posse no início do ano ainda não mostrou a que veio. Não se sabe o que será feito para que a economia saia dessa crise, uma das mais fortes do nosso período republicano. Fala-se muito de reformas que são necessárias para a retomada do crescimento, mas de fato não existem propostas concretas de políticas fiscais e monetárias voltadas para estimular o crescimento da renda e do emprego.
O fato é que a tão propalada reforma da previdência não irá estimular o investimento privado.
O que afeta a decisão de investimento do empresário é venda, é consumo. Se não houver uma expectativa de crescimento de vendas não haverá investimento e isso é sabido por todos e até mesmo, como dizem, pelo mundo mineral.
Mas como haverá consumo diante de um desemprego absurdo? Como haverá consumo diante de um alto endividamento dos indivíduos? Como haverá consumo diante de um sistema tributário regressivo e uma tabela de imposto de renda há anos sem ser corrigida?
Como haverá investimento se, sem dinheiro, as pessoas não consomem? O que acontece quando o empresário olha para a frente e não vê um cenário favorável? Como haverá investimento com taxas de juros elevadas?
E a corrupção? Bem, é melhor mudar de assunto para não passarmos vergonha. Haja laranja...
O fato é que não está tudo bem.