Estamos em um momento em que muita coisa é dita e, no entanto, nada é dito de fato. O que isso significa? Que, apesar da facilidade de acesso a tecnologias de transmissão de informação principalmente através do celular e do volume de informações que recebemos diariamente, se formos colocar em uma balança aquilo que realmente é verdade e que merece crédito, ficaríamos chocados. Ou já estamos chocados?
As notícias fluem com uma velocidade espantosa e são negadas também com uma velocidade espantosa. Somos metralhados diuturnamente com uma incrível quantidade de notícias, fatos, casos, mensagens, fotos, vídeos e por causa disso percebemos que atualmente todo mundo fala sobre tudo, opina sobre tudo, compartilhando todas as mensagens de tal maneira que chegamos a receber uma mesma mensagem de várias pessoas diferentes e isso em pouquíssimo período de tempo.
Até aí não se pode afirmar que isso é um problema e mesmo poderia ser dito que é até bom já que o conhecimento, hoje, se tornou uma mercadoria bastante valiosa.
Na verdade, a questão não é o volume de informação e sim a veracidade delas.
Coisas absurdas são enviadas diariamente. Ovos de plástico, cavalo com asas, kit-gay, pé de goiaba, terra plana, homem na lua, naftalina no tanque de gasolina e por aí vai. Se formos listar todos esses absurdos teríamos um problema de falta de espaço.
Alguém poderia dizer: mas se tem muita notícia falsa, ninguém precisa acreditar nelas. Mas aí que está o grande problema. Estamos vivendo um momento em que tudo o que se diz se torna uma verdade absoluta e isso em questão de minutos. As pessoas gastam tempo compartilhando as mentiras, mas não tem tempo para verificar se é verdade ou não. Acreditam piamente naquilo que recebem e compartilham, indignadas, revoltadas com o que leem. E o pior é que constroem julgamentos baseados nas mentiras que estão lendo. Julgam, condenam, opinam, esbravejam e mesmo chegam a ofender.
Esse momento absurdo que vivemos me fez lembrar de um personagem criado pelo escritor e cronista Luis Fernando Veríssimo no final dos anos 70 ainda durante o regime militar. A personagem, a velhinha de Taubaté era conhecida como a última pessoa no país que ainda acredita no governo, nos anúncios do governo, nas notas de esclarecimento emitidas pelo governo, e, como nos diz Veríssimo, acredita até nos ministros...
A importância da velhinha de Taubaté era enorme de tal maneira que a opinião dela se tornou mais importante que a opinião pública de tal forma que a saúde dela se tornou uma questão de segurança nacional já que, se ela morresse ou mesmo deixasse de acreditar no que era dito pelo governo, teríamos o caos instalado no Brasil.
Se ela não acreditasse mais, o que restaria?
Em 2005, a velhinha de Taubaté morreu, sentada diante da televisão, talvez chocada com alguma notícia, em pleno escândalo do mensalão, de triste memória.
Mas, o que tem essa boa velhinha com os tempos atuais?
2018 foi um ano no qual dois fatos importantes mostram o quanto somos, ou estamos, crédulos. No início do ano, a famigerada greve dos caminhoneiros e no segundo semestre a campanha eleitoral. Durante a greve, absurdos foram ditos, foram divulgados. Foi criado um estado de pânico no país como um todo e dois fatos ficaram explícitos. Primeiro, o desinteresse ou a incapacidade das autoridades policiais para combater essa difusão criminosa de informações falsas e segundo, a grande maioria das pessoas acreditava piamente no que liam. E ainda juravam de pés juntos que era verdade.
Ao longo do processo eleitoral o mesmo fato se deu. Notícias falsas forma espalhadas de forma irresponsável com o claro objetivo de manipular a opinião pública em sua decisão na hora do voto que, infelizmente, deixou de ser soberana. As pessoas escolheram candidatos e rejeitaram outros baseadas em notícias que recebiam através das redes sociais, sem se preocuparem em verificar a verdade do que liam.
O que as pessoas estão lendo se torna verdade acriticamente. Acreditamos em tudo que lemos e assistimos, sem nos preocuparmos em pensar criticamente. Julgamos e condenamos com uma certeza assustadora.
A velhinha de Taubaté está mais viva do que nunca.