Definição de dicionário: conjunto de coisas que não servem mais e são jogadas fora. É o que chamamos “lixo”. Mas, se pensarmos, veremos que muitas coisas que jogamos fora ainda são bem úteis.
Vamos pegar uma latinha de cerveja. Tomou-se o conteúdo, a latinha não serve mais, virou lixo. Mas lixo para nós. Verdade que um montão de latinhas, compactado e pesado, pode render 4 reais o quilo. Ali há metal, alumínio, matéria-prima para produzir outras latas. Tanto é assim que muitas pessoas se dedicam diariamente a essa atividade como fonte de renda.
Esse raciocínio vale para uma infinidade de objetos descartados como lixo. Cadernos, livros, jornais, borrachas, canetas, garrafas PET, vidros, copos descartáveis, isopor, pneus, computadores, celulares, geladeiras, microondas, pilhas, carregadores de bateria, videogueimes, e aparelhos antigos já esquecidos como rádios, vitrolas, máquinas de escrever, etc. Há neles também matéria-prima como celulose, alumínio, chumbo, borracha, baquelita, mercúrio, cádmio, tungstênio, ferro, e até prata e ouro.
Mas, tirando os empresários do ramo – como o nosso Seu Miguel e outros –, para a maioria das pessoas trata-se de um material que queremos ver longe de nossas residências. E ele é bem diferente de cascas de frutas como laranja, banana, abacaxi, restos de verduras e legumes, de alimentos que sobram nos pratos, para os quais a destinação seria bem simples se morássemos na zona rural. Iriam para os animais, como se fazia antigamente. Ou, quando as cidades eram pequenas, como São Gotardo nos anos 1950, os lotes eram enormes, havia espaço para jogar tudo direto na terra. Ali virava adubo. Ninguém tinha problema com lixo.
Acontece que, de 50 anos para cá, o progresso chegou rápido, com muitas mudanças com as quais convivemos bem: ruas asfaltadas, fartura de roupa pronta, selfessérvice, locomoção rápida, comunicação instantânea, cerveja gelada na latinha... Bem, trouxe também os inconvenientes, a começar dessa latinha aí atrás.
A latinha é apenas um símbolo de todos os outros produtos diariamente acumulados e despejados nos lixões. Em nossa cidade, são quatro caminhões, cada um com uma carga de 9 toneladas, num total diário de 36. Fazendo as contas, aproximadamente um quilo por habitante. No mês, são 1.080 toneladas, e no ano cerca de 12.960. Como esse material não é como uma casca de banana, que se dissolve rápido na terra, temos aí um problemão.
A começar da coleta, feita pela Coordenação do Recolhimento de Lixo Urbano da Prefeitura, sob a responsabilidade de Júnia Marize de Araújo. Ela dispõe de 3 veículos especializados para esse serviço, e mais uma caçamba como reserva de contingência. E conta com 14 funcionários, os coletadores, que todo dia circulam pela cidade aliviando a população de seus descartes diários.
Mas, no momento em que você se livrou de um problema, começam os problemas para outros. Levar sacolas de lixo orgânico misturado com copos de plástico, latinhas de massa de tomate, vidros, papel, para não falar em pedaços de ferro, seringas de fazenda, entulho, etc., já é um mau começo. E quando esse material vem em caixas de papelão molhado, que furam quando são levantadas do chão, pior ainda.
Não temos ainda – como já acontece em 20% de municípios brasileiros, inclusive Matutina – uma coleta seletiva. Para tanto, é necessário que as autoridades debatam o assunto, estabeleçam um projeto e comecem a agir, procurando envolver a sociedade para que se crie uma cultura moderna, civilizada, em que cada pessoa dê a contribuição que pode dar.
O leitor pode começar fazendo sua parte: separando metal, plástico, papel, vidro, de um lado, e orgânico do outro. Pode também levar sua cesta ao mercado, ou no mínimo economizar nas sacolinhas. Além de, evidentemente, consumir menos. Mas essa é outra história.
Quanto às autoridades, podem contribuir fazendo também uma coleta seletiva. O lixo orgânico pode virar adubo, e o outro ficar disponível para nossos empresários o explorarem.