Por mais de um século perpetuou-se ,as custas do imaginário popular e de interpretações sem qualquer base documental, a real origem do nome do município. Aqui e ali insinuava-se que o nome da cidade mantinha estreitas relações, na forma de homenagem e reconhecimento a um pretenso "fundador" da vila instalada às margens do hoje denominado Córrego Confusão, Joaquim Gotardo de Lima.
Nos dados registrados no histórico do município no site do IBGE, por exemplo, alude-se: "A vila de São Sebastião do Pouso Alegre teve seu topônimo mudado em 27 de agosto de 1885, para vila de São Gotardo, em memória de Joaquim Gotardo de Lima, considerado o fundador da cidade que, ao que parece, não viveu no lugar pelo resto de sua vida. Não se tem notícia de terem ficado, no município descendentes dele."
De fato, como afirma o mesmo texto, a primeira família a se instalar por aqui foi os Valadares: " Nos primórdios do século XIX, Antônio Valadares e Domingos Pereira Caldas, saindo da região de Pitangui em busca de terras de cultura, fixaram-se às bordas da Mata da Corda. O primeiro estabeleceu-se próximo ao atual "Córrego Confusão" e o segundo aposseou-se de terras a quatro léguas de distância do primeiro, no lugar hoje denominado "Campos Domingos Pereira".
A verdadeira história
Desmentindo a atribuição do nome do município à duvidosa figura de Joaquim Gotardo, o documento oficial, que agora torna-se público e com exclusividade pelo Jornal Daqui, confirma a seguinte versão oficial, também registrada nos anais de nossa história: No dia 27 de agosto de 1885 o padre-deputado Miguel Kerdole conseguiu alterar, no Con-gresso de Ouro Preto ( Lei nº 3.300), o nome da então Vila de São Sebastião do Pouso Alegre para a denominação atual. O topônimo, como se reza a Lei aprovada, foi inspirado no homônimo de um santo alemão, o Saint Gothhard.
O DOCUMENTO
Não se pode afirmar com certeza, mas é possível aludir que a estatueta do famoso santo alemão (Saint Gothhard) frequentava o oratório imperial. É presumível a suposição se levamos em conta que a ascendência da imperatriz Leopoldina ( Austríaca (império Austro-húngaro) e esposa de D. Pedro I), se origina da mesma região onde nasceu e viveu Gothhard de Hildesheim, o santo que deu nome ao nosso município. O nome da im-peratriz é inclusive citado na carta endereçada ao padre-deputado Miguel Kerdole.
A referida carta (foto) é confirmação cabal de que o nome de nossa cidade foi inicialmente sugerido pelo Capitão Mor Joaquim Domingos Pereira, que na é-poca, residia no vilarejo de Perobas, localizado em região próxima ao distrito de Vila Funchal. Este documento joga por terra qualquer alusão a Joaquim Gotardo de Lima.
O Fac-simile da carta histórica (foto) foi reproduzido ( e registrado em cartório) a partir do original encontrado nos arquivos do museu de Ouro Preto. Sua "descoberta" é fruto do esforço incansável do pesquisador e São Gotardense Humberto Pereira.
Documento oficial - redigido no ano de 1884
Transcrição do conteúdo da Carta
Mariana, no dia 12 de janeiro do ano de 1884 de Nosso Senhor Jesus Cristo
Meu grande amigo, sua benção, piedoso Padre Miguel Dias Kerdole.
Como já nos falamos antes, eu em meus pensamentos íntimos e minha família estando em Perobas, sinto-me só. Tenho enorme vontade de me juntar aos meus. Mas meu imperador manda-me a conter em São Salvador, pois o nosso imperador, confiando em mim mais uma missão militar, estarei a frente de quatro guarnições. Preze por seu amigo e confidente.
Eu venho a pedir ao senhor deputado provinciano das Minas Gerais, que o projeto de renomeação do povoado de São Sebastião do Pouso Allegre, deveria ser para homenagear a minha santa devoção de nossa benfeitora Imperatriz Leopoldina do Brasil para o nome de São Gotardo, nosso protetor diante de nosso todo poderoso e misericordioso Jesus Cristo, Como minha volta é indefinida, deixo este pedido onde toda minha família amada reside.
Sem mais delongas, sua santíssima benção e espero que possa atender este pedido do sempre a postos servo de Nossa Majestade.
Capitão Mor, Joaquim Domingos Pereira