Os riscos de contaminação por agrotóxico das fontes de abastecimento de água da cidade, nunca foram tratados com a seriedade que merecem. A desinformação sobre o assunto, associada à ausência de dados técnicos robustos e confiáveis, apenas contribuem para reforçar as suspeitas que pairam sobre o sistema de captação e tratamento da água consumida, tanto em São Gotardo como em Guarda dos Ferreiros. E razões que alimentam temores e desconfiança é que não faltam. Basta citar, como causa mais visível de apreensão, a chamada "Área de Recarga", que desemboca nas das nascentes do Córrego Confusão. Ela está tomada por plantações de cereais, leguminosas, etc., onde a aplicação de produtos agrotóxicos é permanente. O uso extensivo de compostos químicos é prática comum em todo o Padap. Por estar associado à principal fonte econômica de São Gotardo e região os impactos no meio ambiente e na saúde pública persistem como tabu a ser enfrentado.
O que diz a Copasa
O Jornal Daqui pediu esclarecimentos à gerência regional da Copasa sobre o assunto. Como empresa diretamente responsável pela qualidade da água consumida pela população, perguntamos:
1 - O Setor de controle de qualidade da COPASA realiza exames para detecção de substâncias e princípios ativos presentes nos agrotóxicos no município de São Gotardo?
2 - Qual a periodicidade, e quando foi realizado o último exame(nos dois sisemas de abastecimento, em São Gotardo e Guarda dos Ferreiros). Qual o resultado destes exames?
RESPOSTA
Até o fechamento desta edição não obtivemos resposta. O gerente do escritório local, Divino Rodri-gues, informou que o ofício com as perguntas foi encaminhado para o escritório central de Belo Horizonte, e que aguarda para os próximos dias os esclarecimentos solicitados pela nossa reportagem.
Ao pesquisar sobre medidas locais já divulgadas ou tomadas até o momento, o que se verifica é a ausência de ações no sentido de averiguar ou monitorar a presença de Agrotóxicos na água que chega às torneiras das casas. Indagado sobre o assunto, o promotor de justiça, Dr. Sérgio Álvares, informou que aguarda desde 2016 a realização de uma perícia pelo Setor de meio ambiente do Ministério Público. Procurado para falar sobre o assunto, o presidente da Câmara, Gilberto Cândido, defendeu a necessidade de maior controle da qualidade da água e que vai cobrar da Copasa medidas neste sentido. Se, do lado do município, se desconhece ações efetivas(aguardamos para a próxima edição a resposta da Copasa, que poderá esclarecer sobre esta dúvida), o Ministério da Saúde publicou recentemente dados referentes a exames realizados na água que abastece São Gotardo. Veja:
Níveis considerados aceitáveis no Brasil chegam a ser 5 mil vezes mais altos que os europeus.
O caso mais grave é o do glifosato: enquanto na Eu-ropa é permitido apenas 0,1 miligramas por litro na água, aqui no Brasil a legislação permite até 500 miligramas por litro.
Como o glifosato(base do produtos como o 'Round Up') é o agrotóxico mais vendido no país, e também o que tem o limite mais generoso para presença na água.
Desde o início do ano, o Ministério da Agricultura publicou novos registros para 152 agrotóxicos, uma velocidade recorde de 1,5 aprovações por dia. Chamada para esclarecer as liberações em audiência na Câmara na última terça-feira (9), a ministra disse que “não existe liberação geral” e que longos processos de aprovação só atrasam o agronegócio brasileiro.
Nos testes divulgados pelo Ministério da Saúde foram detectados 3 tipos de Agrotóxico na água de São Gotardo.
Os dados utilizados são do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde. Eles fazem parte de um programa de mapeamento, realizado em várias regiões do Brasil.
Os resultados da pesquisa foram divulgados pela imprensa nacional. De acordo com matéria publicada pela revista exame com o título: "1 em 4 municípios tem 'coquetel' com agrotóxicos na água." Seguindo a manchete de capa, um alerta: Dados do Ministério da Saúde revelam que a água do brasileiro está contaminada com substâncias que podem causar doenças graves. Os dados foram coletados entre 2014 e 2017.
Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas.
Entre os agrotóxicos encontrados em mais de 80% dos testes, há cinco classificados como “prováveis cancerígenos” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis apontados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que gera diversos problemas à saúde, como a puberdade precoce. Do total de 27 pesticidas na água dos brasileiros, 21 estão proibidos na União Europeia devido aos riscos que oferecem à saúde e ao meio ambiente.
A falta de monitoramento também é um problema grave. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes na sua água entre 2014 e 2017.
Questionado sobre quais medidas estão sendo tomadas, o Ministério da Saúde disse: “a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública” e listando efeitos nocivos que podem gerar “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias”.
O trabalho preventivo, ou seja, evitar que os agrotóxicos cheguem aos mananciais, deveria ser primordial, afirma Rubia Kuno, gerente da divisão de toxicologia humana e saúde ambiental da Cetesb. “O esforço deve ser na prevenção porque o sistema de tratamento convencional não é capaz de remover os agrotóxicos da água”, afirma.