Naqueles anos, matriculados no ensino fundamental( do pré-primário a 4ª série), da Escola Afonso Pena, todos eles se cruzaram, trocaram olhares, sentaram-se lado a lado; cúmplices de uma amizade que nascia ali, sem grandes pretensões, não mais que daquilo que a toda criança basta. Muito além da área de recreio ou do salão da merenda, foram colegas de classe, de turma, de sala de aula, de carteira...lado a lado, como passageiros em um trem sem destino, percorrendo novos trilhos. Salas de aula do Afonso Pena, onde tudo era mais próximo, naquele tempo longínquo.
Mal sabiam eles, nem nos sonhos mais sonhados, que um dia muito distante, votariam a se reencontrar. 54 anos depois, para ser mais exato. Não é pouca coisa. A ideia do reencontro foi ventilada por um dos ex alunos, e logo ganhou aderência, como naquelas aventuras de caça ao tesouro. Todos perceberam que ali, no bem fundo da memória, estavam bem guardadas as lembranças do quase começo de tudo, de quando a vida ia moldando silenciosamente os caminhos de cada um. E muito mais ainda, o florescer de amizades que hoje, se confirmam eternas.
O grupo de Whatsup criado para tratar do encontro, pelo jeito não tem hora para acabar, ser fechado. Afinal, aquele encontro lá atrás, despretensioso, carregava consigo uma nova história, como ficou provado na festa de reencontro, ocorrida agora, no dia 4 de maio. Um escritor de não ficção teria aqui material suficiente para uma nova versão do livro 'Encontro marcado', de Fernando Sabino. E então chegou o grande dia, o dia do reencontro, passados pouco mais de meio século.
Lá, nos salões da casa de campo Gema de outro(ali, no Córrego do Retiro), no primeiro sábado deste mês, aqueles senhores e senhoras, todos, sexagenários, já maduros o suficiente para compreender alguns mistérios da vida, pareciam meninos e meninas, a andar pelos corredores do Afonso Pena, e o que é principal, com aquela mesma alegria de crianças quando estão reunidas. Tempos bons aqueles, são como brilhos na memória. Partilhando a mesma história, cada um via no outro um pedaço de si mesmo, que queria pegar, apalpar, abraçar e posar para todas as fotos, ao lado de cada um e de todos. E assim, ao longo das horas em que permaneceram novamente juntos lá no Gema de ouro, décadas e mais décadas desapareceram, como que por um passe de mágica. Os mistérios do tempo foram enfim, decifrados.
E depois, feitas as malas de retorno pra casa, às suas profissões e à vida que lá plantaram, levaram consigo cada qual, sua parte do tesouro descoberto.
Falando em locais de origem tinha gente da Bahia e de outros tantos estados e cidades do Brasil, inclusive dos Estados unidos, onde uma das ex alunas reside hoje. Ela disse que valeu muito esperar todo esse tempo e atravessar mares e continentes para o grande reencontro dos ex alunos da Escola Afonso Pena.