Publicamos na edição anterior a notícia de que foi apresentado junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres(ANTT) um pedido de autorização para construir uma ferrovia ligando Ibiá a São Gotardo.
O interesse partiu da Verde Agritech, empresa responsável pela extração de Potássio aqui na região. O pedido se justifica pelo volume e capacidade de processamento do mineral, fartamente encontrado na região. O projeto apresentado à ANTT contempla o transporte de até 50 milhões de toneladas de fertilizantes potássicos por ano, cerca de 55% da demanda nacional, segundo a empresa. Estamos falando de carga pesada e em grande volume, o que torno dispendioso o seu transporte pelo meio rodoviário, encarecendo o custo final para o produtor agrícola.
A alternativa proposta se justifica portanto, principalmente se levarmos em conta a disponibilidade de uma malha ferroviária bem próxima daqui, conectando sete estados e o Distrito Federal, sendo a principal rota entre as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Esta rede de transporte sobre trilhos tem em seu trajeto uma estação na cidade de Ibiá, distante pouco de mais de 60km das unidades de produção da empresa.
A viabilidade e autorização para construção deste trecho de ferrovia é aguardado para os próximos meses.
O Trem que nunca chegou
Nesta reportagem especial, o Jornal Daqui lança luzes sobre um passado distante em que a Maria fumaça, a locomotiva da época, chegou bem próximo a São Gotardo, mas nunca aportou no município. Curiosamente, não foi uma, mas duas estradas de ferro que margearam as fronteiras de São Gotardo e deram meia volta, serpenteando rumo a outros destinos. Nem o advento do polo agrícola do Padap foi capaz de seduzir ou tornar possível a chegada do Trem de ferro por aqui nas terras do Confusão. Ficamos a ver navios, e só.
Eis que agora, um século após o início da construção das duas ferrovias - que não guardam qualquer ligação ou contato entre uma e outra -, vemos reacender a esperança de que finalmente aquele desejo velado de todo bom mineiro que somos, possa se realizar. Enquanto isso, vale rememorar e conhecer um pouco mais da história sobre trilhos e Marias fumaças de um passado remoto:
Barra do Funchal, a última estação
Distante apenas 30 Km da cidade de São Gotardo, às margens do Indaiá, onde o Funchal desemboca no grande rio – daí o termo 'Barra' -, resiste em perfeito estado de conservação o ponto final, a última estação da Estrada de ferro, denominada Estrada de Ferro Paracatu.
Localizada no município de Serra da Saudade, na divisa com São Gotardo, o prédio da estação ferroviária é uma estrutura oriunda da Rede Ferroviária Federal, hoje desativada, está muito bem conservado e foi reformado recentemente. Possui uma plataforma, onde as pessoas embarcavam e desembarcavam do trem. Para se ter uma ideia do frenético movimento à época, a 'Pensão da Barra' servia até 200 refeições ao dia. Boa parte desses passageiros que ali circulavam eram sangotardenses, da cidade e da zona rural. Convém lembrar que as regiões dos Campos e Vila Funchal eram grandes produtoras de café, e o escoamento dos grãos não tinha outro destino: a Estação da Barra do Funchal. O Trem levava café e também passageiros. Por esta linha era possível chegar à Capital mineira. Falando em percurso, esta Ferrovia atravessava os municípios de Dores do Indaiá, Bom Despacho e Pintangui, entre outros.
Convém aqui nos situarmos melhor no tempo: Em 28 de dezembro de 1922 foi dado início à construção do trecho final da Estrada de Ferro, ligando Dores do Indaiá a Serra da Saudade, cujo último destino seria Paracatu. Todavia, ao atingir a Serra da Saudade, em 1927, concluiu-se que, devido a topografia local, a construção deste trecho seria mais dispendiosa, uma vez que exigiria a abertura de diversos túneis e grande movimentação de terra.
Em 1937, o trecho final da Ferrovia, entre Melo Viana e a estação Barra do Funchal foi concluído. Neste mesmo ano foi também concluída a construção do atual prédio da Estação, que hoje é patrimônio tombado e importante ponto de atração turística. Vale lembrar que pelo projeto inicial esta ferrovia atravessaria o município de São Gotardo rumo à Paracatu, o que não ocorreu. A estação final, portanto, da Ferrovia está localizada na divisa entre são Gotardo e Serra da Saudade.
Estação de Ibiá continua a todo vapor
Ao contrário da Ferrovia cujo trajeto interligava a capital mineira até a Barra do Funchal, desativada no final da década de 1960, modernas locomotivas continuam em plena operação na outra linha de Trem de Ferro circunvizinha ao nosso município, construída também no início do século passado. Sua estação mais próxima está localizada na cidade de Ibiá. É por este caminho que a empresa Verde Agritech pretende escoar sua produção de potássio.
A ferrovia é interligada a uma rede ferroviária que conecta sete estados e o Distrito Federal, que tem parte administrada pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA). As ferrovias FCA são a principal rota entre as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.
Este corredor sobre trilhos é administrado pela empresa VLI, que presta serviços logísticos integrados aos clientes, em operações rodoviárias, ferroviárias, portuárias e conexões com terminais, atuando no transporte de grãos, industriais e minerais, fertilizantes, combustíveis, florestais e açúcar.
Em audiência realizada na Câmara de deputados de Minas, há cerca de dois anos, Produtores e empresários demandaram a construção de um terminal de cargas em Ibiá. O objetivo é dotar a região de modal ferroviário para escoamento da produção agrícola, entre outras. O projeto continua em estudo; se viabilizado poderia beneficiar a região do Padap, transportando via ferrovia sua produção de grãos.