O estádio do Mineirão faz aniversário no dia 5 de setembro. Foi nesse dia, no ano de 1965, o acontecido que deu início à sua gloriosa história: a primeira partida realizada em seus gramados. Ao completar agora em 2020 seus 55 anos de vida, apenas um jogador, entre tantos craques que desfilaram no Gigante da Pampulha, carrega a honra de dizer que marcou o primeiro gol do estádio. Coube a José Alberto Bougleux, conhecido como Buglê, inaugurar as redes na vitória por 1 a 0 da Seleção Mineira sobre o River Plate.
José Alberto Bouglaux, também conhecido como Buglê, nasceu dia 26 de julho de 1944, no município de São Gotardo. É filho de Alberto Bougleux e Maria Braga Bougleux, O sobrenome, de origem francesa, não era muito fácil de ser entendido, então foi adaptado para uma versão nacional e ficou “Buglê”.
Foi aqui, às margens do Confusão que o mais iminente atleta de nossa história aprendeu os primeiros dribles, brincou as primeiras 'peladas'. Sérgio Bueno, amigo de infância, relembra: "Ainda moleques, jogávamos bola na rua Padre Kerdole, abaixo da casa do Juca Londe... O campinho era pequeno, mas dava para correr, dibrar (a gente falava assim), lançar a bola e marcar lindos gols. Entre todos os meninos peladeiros, vou destacar o Buglê...era nosso companheiro nas peladas e nas bagunças. Ninguém pensava, naqueles idos de 1958 – ele tinha 14 anos nessa época, mesma idade de meu irmão Osvaldo – que ele iria, apenas 7 anos depois, fazer o primeiro gol da história do Mineirão, pelo qual é lembrado até hoje. Tanto é que seus pés ficaram gravados no portal da fama do estádio".
Em razão de uma transferência profissional de sua mãe, que era diretora em uma instituição de ensino, a família estabeleceu residência em Belo Horizonte. Sem ficar longe da bola, o jovem Buglê foi jogar Futebol de Salão no Cruzeiro, onde conviveu com grandes valores, como Eduardo Gonçalves de Andrade, o afamado craque Tostão.
Quando prestava o serviço militar, Buglê jogava pelo time de seu batalhão. Foi assim que seu futebol vistoso foi descoberto pelo treinador Wilson de Oliveira, que o encaminhou para um período de testes no juvenil do Atlético Mineiro.
Pouco tempo depois, Buglê foi aproveitado na equipe principal. Habilidoso meia-direita, sua notável disciplina tática também foi de grande utilidade na posição de médio-volante. O primeiro compromisso profissional foi assinado em 1963, mesmo ano em que participou do elenco que faturou o título mineiro.
O Primeiro Gol no Mineirão
Em 5 de setembro de 1965, o nome de Buglê entrou para os livros de história ao marcar o primeiro gol do novo “Estádio Governador Magalhães Pinto”, o popular Mineirão. A partida inaugural foi entre o selecionado mineiro e o Club Atlético River Plate da Argentina. Foi uma festa digna do tamanho da nova praça esportiva, com a presença de autoridades e vultos importantes do mundo da bola!
O lance que originou o gol aos 2 minutos do segundo tempo, naquele 5 de setembro de 1965, nasceu de uma tabela com Dirceu Lopes, e contou com a colaboração de Gatti, goleiro do River Plate, que falhou na hora de cortar o passe.
Buglê, em uma de suas entrevistas, recontou o percurso até as redes: “Lembro que roubei a bola na intermediária e tabelei com o Dirceu Lopes até a área adversária, quando, no final, ele lançou e o goleiro se trombou com o zagueiro; a pelota sobrou e tive a felicidade de só empurrá-la para as redes”. É algo que me deixa muito feliz. Ter a honra de marcar o primeiro gol do Mineirão é algo fantástico."
Comandados pelo treinador Gerson dos Santos, os mineiros entraram em campo com Fábio; Canindé, Grapete, Bueno e Décio Teixeira; Buglê, Dirceu Lopes e Wilson Almeida; Tostão, Silvestre e Tião. O técnico Jose Curti mandou o River Plate ao gramado com Gatti; Sainz, Ramos Delgado, Grispo e Matosas; Capp e Sarnari; Cubilla, Artime, Delém e Más.
Do Galo ao Atlético de Madrid
Buglê permaneceu firme no elenco do Atlético Mineiro até 1966. Transferido por empréstimo ao Santos Futebol Clube em 1967, o rico aprendizado com o volante Zito foi especialmente importante para o seu desenvolvimento.
Pelo time da Vila Belmiro, Buglê participou do plantel que foi bicampeão paulista em 1967 e 1968. Em seguida, seus direitos foram transferido em definitivo para o Club de Regatas Vasco da Gama, onde foi campeão carioca de 1970.
Ainda pelo Vasco da Gama, Buglê fez parte do elenco que foi campeão brasileiro de 1974, antes de conseguir entrar em um acordo com a diretoria e comprar o próprio passe. Com o passe em mãos, Buglê colocou em prática o seu projeto pessoal de jogar no badalado cenário europeu. Sem intermediação de nenhum empresário, Buglê jogou pelo Sporting de Portugal e depois pelo Atlético de Madrid.
O céu cintilante de Buglê
A estrela do sangotardense Buglê não foi brilho passageiro. Seu currículo vai muito além da marca histórica com o primeiro gol no Mineirão. Ele defendeu grandes clubes no Brasil e mundo afora. E mais que isso: como prova inegável de seu talento, basta dizer que Buglê jogou ao lado de Pelé, o rei do futebol. Na foto abaixo, Buglê ao lado de PELÉ.
Buglê, hoje
Nascido em São Gotardo, Buglê curte uma vida pacata em Brasília, onde vive desde que largou os campos. Apesar da doença, ele não abre mão da velha cervejinha e da chácara, onde cuida dos gados e curte a amada pescaria.
No segundo casamento, o autor do primeiro gol do Gigante da Pampulha tem ao lado a esposa Walnice, a qual classifica como seu “porto seguro”.
“Acompanho muito pouco o futebol atualmente. Hoje, não é como na minha época. Temos muito cai-cai, jogadores com salários altos e muita fama. Na minha época, futebol não dava dinheiro”, conta. “Quando está no auge, você é rei, depois te esquecem rapidamente”, finaliza o homem que fez o Mineirão ir à loucura pela primeira vez.
Eu vi o Buglê marcar o primeiro gol no Mineirão
Ainda moleques, jogávamos bola na rua Padre Kerdole, abaixo da casa do Juca Londe. Nossa família morava ali perto – meu pai Osvaldo, minha mãe Zuzita, meus irmãos Osvaldinho, Nívio, Bueno, Neno, João, e minhas irmãs Arlene (Lelena) e Heloísa (Loló). O campinho era pequeno, mas dava para correr, dibrar (a gente falava assim), lançar a bola e marcar lindos gols. Havia muitos craques que prometiam: além de mim próprio, que marquei tantos ou mais gols que o Pelé, o Oswaldinho meu irmão, o Agostinho, Clodoaldo (Soares Pedroso) e o Quinho (Joaquim Damasceno), filho do Raimundo Cocheiro, e outros.
Entre todos os meninos peladeiros, vou destacar o Buglê, que escrevíamos em brasileiro passando por cima da grafia francesa oficial – que é Bougleux. Filho da diretora do Afonso Pena, dona Maria Braga, muito respeitada e admirada, era nosso companheiro nas peladas e nas bagunças. Tanto é que, anos depois, famoso, ele queria pedir perdão a minha mãe. De quê, Zé Alberto? Perdão de quê? Ora, dona Zuzita, das bagunças que a gente aprontava na casa da senhora, onde havia muitas revistas em quadrinhos do Zorro, Roy Rogers, Mandrake.
Minha mãe certamente perdoaria o que não havia que perdoar. Ela compreendia bem aquela meninada ansiosa por viver. E decidiu firmemente pedir sua transferência para dar aulas em um Grupo Escolar de Belo Horizonte ou cidade próxima à Capital. Mudou-se com os filhos para Lagoa Santa, deixando meu irmão Nivio em um seminário de Mogi-Mirim, e eu, na Casa Paroquial de São Gotardo, a convite do saudoso Padre José Lima.
Mas quero falar é da fama do nosso colega de peladas Buglê, que só chamávamos de Zé Alberto. Ninguém pensava, naqueles idos de 1958 – ele tinha 14 anos nessa época, mesma idade de meu irmão Osvaldo – que ele iria, apenas 7 anos depois, fazer o primeiro gol da história do Mineirão, pelo qual é lembrado até hoje. Tanto é que seus pés ficaram gravados no portal da fama do estádio. Não vou falar muito do que já está no Iutube, exceto registrar aqui a descrição que ele faz do gol: ““Eu roubei a bola na intermediária e tabelei com o Dirceu Lopes até a área adversária, quando, no final, ele lançou e o goleiro se trombou com o zagueiro; a pelota sobrou e tive a felicidade de só empurrá-la para as redes.”
Sim, o Buglê primeiro jogou com os meninos da rua Padre Kerdole, mais tarde jogaria com Tostão e Dirceu Lopes na Seleção Mineira, depois com o Pelé no Santos no auge de seu futebol.
Fui vê-lo no Mineirão no dia 5 de setembro de 1965. O jogo era River Plate versus Seleção Mineira. Passou o primeiro tempo sem gols. Veio o segundo, e logo no comecinho acontece aquilo que o Buglê falou aí acima. Comecei a gritar feito um louco – acho que todos ali estavam mais ou menos nesse estado, mas eu estava mais. Por uma razão simples, que eu expressava aos berros: ele é meu amigo, joguei junto com ele, ele é de São Gotardo. Por aí afora: coisa que me dá muito orgulho e que os meus conterrâneos de São Gotardo e leitores deste jornal Daqui também podem sentir.
Pessoal, eu estava lá: eu vi!
Quero dedicar este pequeno artigo ao Zé Alberto Bougleaux (Buglê) e aos antigos craques do Sparta, ídolos da minha infância, entre eles o Zé de Castro e, principalmente, o maior craque que vi jogar em São Gotardo: o grande Zé do Baiano.
Antônio Sérgio Bueno (eterno torcedor do Galo! E do Sparta!)