Gilberto de Oliveira Cândido Ingressou na política há quase 30 anos. Ao longo de todo esse tempo pode vivenciar, ora como testemunha ocular ora como protagonista, um sem número de situações e experiências, tendo, inclusive, ocupado a cadeira de chefe do executivo na década de 1990. Na entrevista a seguir o novo presidente da Câmara Municipal de São Gotardo fala entre outros assuntos do posicionamento do Poder Legislativo diante das recentes ofensivas do prefeito de Rio Paranaíba na região limítrofe entre os dois municípios, próximo ao trecho de São Gotardo. Veja a entrevista.
O que a população espera de um homem público?
Às vezes eu tenho uma visão um pouco diferente da maioria das pessoas. Eu acredito que quando uma pessoa se coloca a disposição da população para representá-la, isso tem de ser exercido de forma exclusiva. Acredito que é um trabalho que você se propôs a realizar para sua comunidade. É preciso total dedicação. O homem público tem de ter essa responsabilidade.
A atual Legislatura inclui vários parlamentares que ingressam pela primeira vez na vida pública. O que aprender no início?
A política é um ciclo. Estou em meu quinto mandato com vereador, e pela terceira vez assumindo o cargo de presidente. É uma safra muito boa de novos vereadores, pessoas comprometidas com o bem estar da população. Penso que é importante essa oxigenação no meio político, com o ingresso de gente nova, neste sentido a troca de experiências com os que estão a mais tempo é sempre benéfica. Acredito que essas duas coisas aliadas faz com que a Câmara permaneça voltada para os princípios para os quais ela foi criada, que é a defesa e representação dos interesses da comunidade.
O senhor concorda com a percepção de que a Câmara passou na última década por um longo e às vezes difícil processo de mudanças, reorientando seu papel e sua função representativa?
Acredito que houve uma mudança significativa. Penso que hoje, o vereador, o homem público já percebeu, vendo os resultados das eleições, as manifestações do povo, que as questões coletivas estão acima dos interesses pessoais. Os problemas que interferem diretamente na vida da comunidade em si são muito maiores que os interesses de grupos ou partidos políticos.
O senhor acompanha já de longa data as polêmicas envolvendo as demarcações de fronteira entre São Gotardo e Rio Paranaíba. Mais recentemente a Câmara vem se posicionando de maneira efetiva na defesa dos interesses do município. Como o senhor analisa as recentes ações do prefeito de Rio Paranaíba, que demonstra especial interesse pela arrecadação de impostos de algumas empresas localizadas no entorno do trevo de São Gotardo?
Para compreendermos melhor temos que voltar um pouco na história. Em 1974, quando o Padap foi instalado aqui na nossa região, constatamos que as pessoas que lutaram pela implantação deste programa eram todas daqui de São Gotardo. Podemos citar: José Luiz Borges, Dr. César, José Moreira, Juvenal... Foram as lideranças de São Gotardo que lutaram e fizeram todo esforço para que o Padap virasse realidade. Nós abrigamos e sempre recebemos de braços abertos tanto a classe produtora como os trabalhadores. Nunca negamos ou dificultamos a vinda dessas pessoas que escolheram nossa cidade para residir e criar suas famílias. Todos sabemos que a maioria das terras da Padap está localizada em outros municípios, mas quem faz ela produzir, reside aqui. Nos últimos anos recebemos e abrigamos uma grande população de imigrantes vinda das regiões norte e nordeste. Sendo que parte dela inclui a chamada população flutuante. São pessoas que escolheram nossa cidade para morar, e o município tem que arcar com as despesas nas áreas de saúde, educação, assistência social... E o nosso município não recebe recursos para isso, pois boa parte dos trabalhadores não tem residência fixa aqui. Nenhum prefeito até hoje faltou com o compromisso de zelar pelo bem estar de todos os nossos moradores, sejam fixos ou não. Consideramos impróprio e injusto as ofensivas do município vizinho na tentativa permanente de invadir nossas fronteiras, desconhecendo que é o município de São Gotardo que arca com o custo social deste programa desde que foi implantado. Portanto, nada mais justo que nós lutarmos por aquilo consideramos de direito. Nosso compromisso é lutar pelo bem estar das pessoas que aqui residem, incluindo aí os moradores do distrito de Guarda dos Ferreiros, que dependem das riquezas geradas na região. É questão de justiça. É por isso que levantamos a nossa voz, não para defender interesses financeiros ou comerciais, mas para defender os interesses das pessoas que estão aqui, e que precisam de recursos, na área da saúde, educação, etc.
Ficou de certa maneira evidente que o interesse da prefeitura de Rio Paranaíba é apenas financeiro, diante do desinteresse com a série de problemas que os moradores de Guarda dos Ferreiros, residentes na parte do município vizinho enfrentam, não?
Não resta dúvida que tem prejudicado o distrito como um todo, essa divisão entre dois municípios. Aos moradores não interessa essa divisão, pois o que realmente importa é que as demandas sejam atendidas.
Até mesmo pela localização geográfica é evidente que o distrito mantém uma relação mais direta com São Gotardo, não?
Correto. Tem a questão de logística, de proximidade, de ligação é com São Gotardo. É sabido que Rio Paranaíba sempre deixou de cumprir com uma série de obrigações com os moradores; nunca demonstram real interesse em resolver os problemas das pessoas que lá residem. É lamentável o que estamos assistindo agora: uma ação do prefeito com o único objetivo de adquirir recursos financeiros apenas, ficando ainda mais evidente seu desinteresse em resolver os problemas que afligem os moradores. Daí a nossa revolta, e a luta constante para preservar ali, os nossos limites e preservar acima de tudo o bem estar das pessoas, assim como dos empresários que ali trabalham.
Houve inclusive uma reunião com os empresários, promovida pela Câmara, e que hoje estão no centro de uma demanda. Suas empresas estão instaladas em ponto de conflito, no entorno do trevo de São Gotardo. O prefeito de Rio Paranaíba reivindica que as mesmas passem a recolher impostos para o município vizinho. No impasse verifica-se pelas atuais demarcações estão localizadas em Rio Paranaíba(incluindo o trevo de São Gotardo) . No entanto, todos os empresários além de residirem em São Gotardo são contrários à transferência. Como a Câmara está lidando com esta demanda?
Quando fui prefeito, asfaltamos a via lateral do lado esquerdo da rodovia, ou seja, uma obra da prefeitura do município de São Gotardo. No desejo de atender a uma antiga reivindicação dos empresários, mais recentemente a prefeitura vem trabalhando para que via lateral à direita da rodovia também seja asfaltada.
Na referida reunião o senhor defendeu que a linha de fronteira separando os dois municípios tenha como referência a BR 354, correto?
Esta divisa na BR 354 já existe de fato, apesar de ainda não de direito. São Gotardo sempre cuidou daquela região, por ser a nossa porta de entrada, e pela própria localização geográfica.
Nós não abrimos mão desse pleito e estamos reivindicando esta mudança junto à fundação João Pinheiro, para que a divisa seja a BR354. Todas aquelas empresas localizadas próximas ao trevo estão registradas em São Gotardo. Portanto nada mais justo . Vamos a partir de agora, defender até a última instância que a linha de divisa tenha como referência a BR354.
O tabuleiro político começa a se movimentar. Quais suas expectativas com as próximas eleições municipais ?
Estarei presente nas discussões. Eu participei direta ou indiretamente do processo político de São Gotardo nos últimos 30 anos, então é natural que nas próximas eleições, em 2020, desejo continuar participando e atuando. Claro, que sempre respeitando acima de tudo a soberania popular. Tenho a humildade de reconhecer que nosso município tem pessoas capacitadas para assumir o papel de representante da comunidade. Mas não vou negar que é meu sonho e que me sinto preparado para oferecer meu nome na próxima disputa eleitoral, e me submeto à vontade do povo, aos acontecimentos, às circunstâncias. Sinto que ainda tenho muito a contribuir, aprendi muito ao longo desses 30 anos. Eu coloco nas mãos de Deus, acima de tudo, e espero que a população decida o melhor para a nossa cidade.