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    Segunda, 12 Abril 2021 13:01

    ENTREVISTA - Jaqueline Luíza Santos - Secretária Municipal de Saúde

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    Quando tomou posse no dia 1º de janeiro, a nova secretária municipal de saúde, Jaqueline Santos, ainda não dispunha dos sinais de que muito em breve estaria no olho do redemoinho, a chamada segunda onda da Pandemia. (Nem ela, nem a prefeita Denise Oliveira, que a nomeou para o cargo.) Pesava em seu favor, felizmente, o fato de ser funcionária de carreira na saúde municipal. Desse modo, na condição de chefe do setor epidemiológico da secretaria, teve a oportunidade de con-viver de perto com a escalada do Coronavírus no ano de 2020. As lições aprendidas lhe serviram de ferramenta para o enfrentamento, daquilo que podemos chamar o pior momento da crise pandêmica.

    Não é tarefa simples lidar diariamente com os inúmeros desafios que batem à sua porta. Para os leitores que ainda não a conhece, a entrevista que se segue, é uma oportunidade de saber o que pensa, e como está lidando com estes desafios. Jaqueline Santos falou à nossa reportagem, em entrevista gravada no dia 30 de março último. Veja.

     

    Qual é o diagnóstico hoje da pandemia na região do Alto Paranaíba, em relação à situação hospitalar e à disseminação do vírus?

    A situação no Alto Paranaíba ainda é crítica. Temos um número considerável de novos casos todos os dias. Temos observado, no entanto, uma leve tendência de queda nesses números, porém, uma situação de conforto ainda não ocorre. A situação ainda é preocupante, com pequenos sinais de redução.

    E em relação à disseminação do vírus?

    Vamos falar de São Gotardo. Hoje a taxa de transmissão é de 1 para 1. Isso significa que uma pessoa que testou positivo contamina uma outra. É uma taxa linear de transmissão, o que significa uma estabilidade no contágio. Quando essa proporção é maior, temos uma curva ascendente, o que não é o caso do município de São Gotardo. Na nossa microrregião, há cidades com maior número de casos, em curva ascendente, como em Carmo do Paranaíba. Outras, como Matutina e Santa Rosa da Serra a situação está sob controle, com taxa de transmissão inferior que 1 para 1.

    O atendimento hospitalar continua crítico?

    Sim. Hoje a ocupação dos leitos de UTI é de 100%. Isso, porque somos referência para a região. Nossos leitos atendem pacientes de vários municípios da micro e da macro região. (Proporcionalmente, uma média de 70 a 80% dos leitos estão sendo ocupados por pacientes de outros municípios).

    Não havendo vaga aqui, pacientes de São Gotardo que necessitem ser intubados, são transferidos para outras regiões, correto?

    Inicialmente o paciente é atendido na ala clínica, e quando agravado o quadro e for necessário o Tratamento intensivo, nós pleiteamos uma vaga em hospitais de outras regiões. A situação está cada vez mais estreita, e não está fácil encontrar vagas, pois em todo o Estado a situação é crítica.

    E as expectativas para os próximos 15 dias.

    Esperamos que com estas medidas restritivas, haja uma redução significativa, tanto dos casos leves como dos graves. Nossos dados atuais apontam para uma discreta redução, pelo menos por enquanto. A expectativa é que pelos próximos 15 dias essa redução seja mais evidente.

    O distanciamento social ainda é única forma de conter a disseminação do vírus; não há outra. Mesmo com a vacina, por algum tempo teremos que manter o distanciamento e evitar aglomerações.

    Apesar da gravidade da situação no estado e na região, São Gotardo tem apresentado números relativamente baixos (casos e internações). Como avalia?

    Ainda que os números apresentem certa estabilidade, São Gotardo não é um ente isolado. Estamos conectados permanentemente a outras cidades da região, do Estado e do Brasil. Temos um grande fluxo de pessoas que vem pra cá. Neste sentido, a preocupação deve ser constante.

    Principalmente devido à atividade econômica, esse fluxo é inevitável. Como monitorar a entrada de pessoas no município. É uma tarefa muito complexa, não?

    É muito difícil esse controle. As portas estão abertas tanto para aqueles que vêem somente a passeio ou para trabalho. Elas chegam das mais variadas formas, por vias legais e por vias clandestinas. Então, é quase impossível controlar esse fluxo de entrada. Estamos atentos a esse movimento, procurando monitorar aquilo que for possível.

    A segunda onda trouxe com ela uma nova ameaça, que são as variantes do vírus. Como a saúde municipal está lidando com este risco, principalmente considerando esse fluxo de migrantes de outras regiões onde a Variante P1 já tenha se disseminado?

    Quanto maior a circulação de pessoas, maior é o risco de contaminação. Laboratorialmente, ainda não identificamos variantes do vírus aqui em São Gotardo. Mas já observamos que as características do vírus nessa nova onda de contágio são diferentes. Temos uma doença mais agressiva, e eu diria até, que mais fulminante. Já tivemos alguns casos com esse padrão, onde o quadro se agrava muito rapidamente, levando inclusive, a óbito.

    Já foram realizados exames específicos para diagnosticar vírus com a variante P1?

    Ainda não fizemos nenhuma coleta de exame para determinar variante. Não sabemos se está circulando na região, ou não. Estes exames específicos cabem de uma iniciativa das autoridades epidemiológicas do Estado, e não do município.

    Hoje a saúde foca principalmente no atendimento da covid-19. E em relação aos pacientes que necessitam atenção médica, como cirurgias eletivas, tratamentos fora do domicílio?

    Não podemos negar, que devido à grande carga de trabalho envolvida no tratamento da Covid-19, tivemos que diminuir o atendimento de outros casos. Apenas os procedimentos de urgência estão sendo atendidos, tanto em relação às cirurgias eletivas como nos tratamentos fora de domicílio. Temos ofertado o básico, mantendo as consultas de especialidade e casos de menor complexidade, dentro das condições que a Pandemia nos permite.

    Mesmo porque, hoje há uma sobrecarga nos serviços hospitalares em todos os setores, inclusive de insumos e medicamentos; e não podemos comprometer o atendimento mais urgente com a Covid-19.

    A expectativa é de se chegar à faixa etária dos 60 anos ainda em abril. Alcançada esta etapa, a vacinação seguirá em escala descendente? E quanto ao grupo de pessoas que apresentam comorbidade, há previsão?

    Devemos chegar na faixa dos 60 anos em uma ou duas semanas no máximo. O governo deve partir então para os grupos específicos, como portadores de comorbidades , grupos de profissionais diferenciados como os da educação e da segurança. Já estamos fazendo um levantamento do numero de pessoas com comorbidades nas UBSs.

    A ciência já disse que não há eficácia comprovada com o chamado Tratamento precoce. Como a Secretaria municipal de saúde se orienta com relação ao tema?

    Não tem nenhum estudo robusto que comprove que esse tratamento utilizando determinadas drogas seja de fato efetivo, então a secretaria respeita a autonomia do médico. Ele é responsável, através da avaliação clinica individualizada de cada paciente, por determinar o que é melhor pra ele. Existem no nosso município médicos que adotaram assim a postura da utilização de algumas dessas drogas, outros, de jeito nenhum. A nossa secretaria não vai implantar esse protocolo de tratamento precoce, pois ela não acredita na efetividade nesse tipo de tratamento.

    Há o risco de faltar medicamentos e outros insumos, como oxigênio?

    A nossa situação não está confortável. Nós temos profissionais muito compromissados para que isso não falte. São coordenadores, farmacêuticos, médicos, enfermeiros, com atenção voltada 24 horas por dia, atentos para não deixar faltar insumos. Hoje no dia 30, não está faltando nada, nem oxigênio, nem medicamento para intubação. No entanto, dependemos da indústria farmacêutica. Se não tiver para nos vender nós não vamos ter de quem comprar. O que temos feito é restringir o acesso a alguns setores de saúde, como cirurgias eletivas. O foco é o atendimento ao paciente com Covid. Então, hoje, confortável não está, mais está sob controle.

     

     

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