Perto de completar um século na ativa, o cemitério da cidade está com os dias contados. Já a alguns anos, mesmo com as ampliações em seu perímetro, tem se mostrado premente a necessidade de construir um segundo cemitério na cidade. Apesar do sistema de rotatividade - onde o corpo fica enterrado por cinco anos e, posteriormente, removidos os restos mortais para um ossuário - , o atual espaço já não comporta mais a demanda.
Há três anos o Jornal Daqui já alertava sobre o problema, e agora, em 2021, a situação chega a seu limite, sob risco de um colapso iminente. Até os corredores já estão sendo ocupados por túmulos, e por falta de espaço estão sendo construídos uns sobre os outros. Uma medida que poderia ter sido evitada. Deixou-se para a última hora o que deveria ter sido resolvido a muito tempo.
Conforme dados pesquisados pelo Jornal no Cartório de registros, são realizados cerca de 230 a 280 sepultamentos por ano(dados a partir de 2017). Só no primeiro semestre de 2021 foram 138. Até o final deste ano, a previsão é que o cemitério chegue ao seu limite. Estamos, portanto, numa corrida contra o tempo.
Diante dos riscos de um colapso, uma solução emergencial seria realizar os sepultamentos no cemitério de Guarda dos Ferreiros, pois há que se considerar que levará um tempo até que se defina o local para o novo cemitério da cidade, e o mesmo seja murado.
Prefeitura procura terreno para novo Cemitério
Diante da urgência, como informou à reportagem o secretário de administração da prefeitura, Marcelo Ladeira, tornou-se prioridade as negociações para aquisição de um terreno para esta finalidade. E a única solução é dar início às obras de construção de um novo cemitério. Não é tarefa simples a empreitada. A administração municipal tem se debruçado sobre o principal problema: a escolha do local. Além de se levar em conta a acessibilidade, o local escolhido deve estar em acordo com as leis ambientais. Inevitável também considerar a necessidade, ou não, de se construir uma nova casa velório.
Convém ainda ressaltar que a instalação de um crematório não deveria ser de todo descartada, afinal, trata-se de uma técnica funerária muito comum em cidades de médio e grande porte, e que oferece menos riscos ambientais que o sepultamento do corpo em covas. Há vários exemplos de terceirização do serviço.
Um pouco de história
A título de curiosidade: a inauguração do atual cemitério, no ano de 1930, há 91 anos portanto, foi palco de cenas novelescas. Naquele tempo o local escolhido para sua instalação era isolado, no meio do pasto.
Poucos sabem daqueles intermináveis dias em que durou o serviço de transporte de dezenas de arrobas de ossada humana do cemitério então desativado - onde é hoje a Igreja - para o novo. Via carro de boi , percorria-se o trajeto entre a praça Sagrados Corações e destino final, o cemitério recém construído, ali, no final da Avenida Rio Branco. Um cortejo fúnebre embalado pelo som das rodas do carro, que ecoava pelo vale do confusão, feito notas de violino.
A remoção dos restos mortais dos primeiros moradores da vila do confusão, do antigo local, está inscrita nos anais de nossa história como cena de singular comoção. As ossadas foram cuidadosamente desenterradas das tumbas do antigo cemitério, desativado para dar lugar à construção da Igreja Matriz. A mudança não foi bem recebida pelos moradores da época, por não concordarem que seus entes queridos fossem enterrados no novo local, no meio do pasto, diziam eles. Houve, contam os mais antigos, momentos de tensão: Alguns familiares, após a celebração da missa de corpo presente, rumavam ,com o caixão em cortejo fúnebre, para o antigo berço de seus ancestrais. O protesto incluía uma discussão com o representante da prefeitura que tentava explicar que agora, os mortos tinham uma nova morada e que estava proibido o sepultamento no antigo cemitério. Às vezes a contenda terminava em bate-boca.