Doutor João Carlos Taciane é também diretor do Centro de Tratamento Intensivo do Hospital municipal. Por estar na linha de frente, ele convive diariamente com o lado mais perverso da Pandemia, os leitos de UTI, onde os pacientes são intubados. Ele acompanha de perto a luta das equipes de médicos e enfermeiros na árdua tarefa de salvar a vida de pacientes em estado de extrema gravidade. Mais temerário ainda por estar lidando com uma doença desconhecida, e para a qual não há remédios de eficácia comprovada. Infelizmente a taxa de letalidade ainda é alta: hoje, de 10 pacientes intubados, apenas 3 sobrevivem. Por esta e outras razões, Dr. João Carlos, conhecedor dos riscos que a Covid-19 representa é um enfático defensor das medidas de prevenção: "O que devemos fazer é nos prevenir, e a proteção individual é melhor maneira. Essa responsabilidade deve partir da gente. Vamos usar máscaras, vamos manter o distanciamento social, vamos evitar aglomeração, que aliás, é o que mais dissemina o vírus." alerta ele. Veja a entrevista.
Um dos parâmetros utilizados para medir o grau de intensidade da Pandemia é a taxa de ocupação dos leitos de UTI. Por várias semanas esta taxa persistiu em seu limite máximo, com 100% de ocupação. Já é possível perceber os efeitos das medidas restritivas, aplicadas para conter a disseminação do vírus?
Hoje estamos com 50% de ocupação dos leitos de UTI. Como o nosso centro de tratamento de Covid-19 é mantido com verbas estaduais e federais, o atendimento deve ser garantido a toda região. Neste momento temos vagas, mas que isto não sirva de motivo para relaxar as medidas de prevenção. Penso que agora é hora de manter o rigor nessas medidas. Felizmente conseguimos atender à demanda, e não houve nenhum paciente de São Gotardo que não tenha sido atendido por falta de leito.
Quando o paciente chega a ser intubado, qual o percentual de chance de recuperação?
A regional de Patos de Minas, da qual fazemos parte, vinha mantendo uma taxa de sucesso de 15%. Nesse mês de abril, a marca gira em torno de 30% de pacientes recuperados após o tratamento intensivo( ou seja, de 10 pacientes internados em leito de UTI, 3 sobrevivem). Isso se dá pelo motivo de estarmos aprendendo a lidar melhor com a doença, tanto em relação ao manejo respiratório como dos medicamentos aplicados. As equipes de modo geral estão mais sincronizadas, e com isso estamos conseguindo mais eficiência no tratamento. É sempre bom lembrar que a Covid-19 era uma doença totalmente desconhecida.
Este desconhecimento da doença dificultou a adoção de protocolos de tratamento padronizados. Hoje já é possível tratar os pacientes com regras mais claras quanto aos procedimentos aplicados?
Sim. Os protocolos existiam desde o início, mas eram modificados a cada semana. Nós víamos claramente que eram testados procedimentos na tentativa de se definir qual o melhor tratamento. Agora, já conseguimos firmar um protocolo padrão; Há dois ou três meses que ele não muda. Hoje já sabemos qual o melhor manejo para lidar com a doença.
Estando na linha de frente, o senhor saber melhor que ninguém da gravidade da doença. Quais as orientações, no seu entendimento, para se prevenir do contágio?
A proteção individual é fundamental. Vou ressaltar que tratamento ainda não existe; é com o manejo adequado ao paciente que nós damos mais chance a ele de resistir à doença. O que devemos fazer é nos prevenir, e a proteção individual é melhor maneira. Essa responsabilidade deve ser individualizada. Não podemos delegar essa responsabilidade às autoridades públicas, à prefeita, ao comandante de polícia. Essa responsabilidade deve partir da gente. Vamos usar máscaras, vamos manter o distanciamento social, vamos evitar aglomeração, que aliás, é o que mais dissemina o vírus. Sabemos que ele se espalha pelo ar, em gotículas de aerossóis. O poder de contágio em ambientes fechados ou aglomerações é muito grande; há estudos apontando que essas gotículas alcançam distâncias superiores a três metros.
Esse alerta serve principalmente para o público jovem, que tem ignorado essas recomendações, não é isso?
O público jovem, com essa nova variante do vírus, começou a ser bem mais atingido. Claro que há grupos com mais tendência a se agravar, mas hoje o grupo de risco somos todos nós. A doença existe, e temos que respeitá-la. A doença é grave, e ainda não existem remédios para ela. Imagine uma dor de garganta, por exemplo; num caso de amigdalite temos um remédio específico para a cura. Receitamos com confiança uma amoxilina ou similar. Tem um remédio certo para o Covid-19? não, não tem. O que nós fazemos no caso de uma pessoa estar contaminada pelo vírus é dar suporte para que ela própria tenha forças para combater a doença.
O senhor se referiu à variante do vírus. Já é possível perceber seus impactos por aqui?
Essa variante se espalha mais rápido sim, atingindo também o público mais jovem. Com toda certeza ela já está circulando aqui. Os exames mostram isso. Desde que começou a vir paciente de Manaus para Uberaba, e daí, já foi confirmado uma cepa nova em monte Carmelo, em Coromandel, depois em Patos de Minas..., e também aqui em nossa região já foi confirmada presença dessa nova variante.