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    Terça, 19 Novembro 2024 00:17

    Os primeiros migrantes do Norte/Nordeste

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    2024, ano histórico da Migração em São Gotardo - 20 anos separam as migrações de Colônia japonesa(1974) e de trabalhadores da região norte(1994) 2024, ano histórico da Migração em São Gotardo - 20 anos separam as migrações de Colônia japonesa(1974) e de trabalhadores da região norte(1994) Foto: Reprodução.

    Foi em meados da década de 1990 - há 30 anos, portanto - que se deu início ao fluxo migratório das regiões norte e nordeste do Brasil, onde trabalhadores e suas famílias aportaram em São Gotardo na expectativa de melhores condições de vida

    Na edição anterior, publicamos reportagem lembrando os 50 anos da migração japonesa, cravando o ano de 1974 como epicentro e marco temporal de um movimento que se desdobrou e se consolidou ao longo de não mais que uma década. Passados 20 anos desde a chegada dos primeiros migrantes da re-gião sul do Brasil, São Gotardo foi destino de um outro movimento, que a exemplo do primeiro, trouxe consigo as bases de profundas transformações na estrutura social e econômica do município.

    Foi em meados da década de 1990 - há 30 anos, portanto - que se deu início ao fluxo migratório das regiões norte e nordeste do Brasil, onde trabalhadores e suas famílias aportaram em São Gotardo na expectativa de melhores condições de vida.

    A produção agrícola é a força motriz, o pano de fundo desta formidável saga, onde o segundo foi desdobramento natural do primeiro. Muito ainda haverá o que se falar de um e de outro, e deste implausível encontro de norte e sul aqui nas terras do confusão.

    Como foi lembrado na reportagem citada, ainda que se preservem os traços originais, fundir em um mesmo caldeirão culturas e costumes distintos libera inevitavelmente a força transformadora da miscigenação, depurando ingredientes em um tempero singular, de natureza única.

    A exemplo das famílias de origem nipônica, os migrantes oriundos das regiões norte e nordeste trouxeram na bagagem traços socioculturais de um mundo desconhecido e distante. O instinto gregário cuidou de acomodar essas diferenças, em um longo processo de adaptação, que perdurou ao longo dos últimos 30 anos.

    Falando em mistura, a leva de trabalhadores migrantes tem origem diversa. Ainda que o Maranhão seja o principal estado exportador de mão de obra para o Padap, o leque se ramifica a partir da região do norte de minas, passando pela Bahia e chegando aos estados dos extremos norte e nordeste do Brasil. Apesar desta diversidade de 'fontes de origem', trazem consigo traços similares. O cearense Júlio Lira, entrevistado nesta reportagem e conhecedor dos rincões do Brasil, diz: “quando começo a subir e chego ao norte de minas, já me sinto no Nordeste. Cada estado tem sua cultura, comida, um tempero. De modo geral são parecidos, tem um jeito próprio de ser.”

    O Retirante: Uma Jornada de Sobrevivência

    Vários complicadores impossibilitam determinar com exatidão o número de migrantes do Norte/Nordeste que hoje residem no município. Eles se distribuem em duas categorias: os fixos e os temporários. Ao todo, calcula-se que este número gira em torno de 20 mil pessoas.

    Enquanto o IBGE fala em 43 mil habitantes no município, a Secretaria municipal de Saúde tem cadastrados nos postos de atendimento cerca de 61 mil pessoas. Como o Censo registra apenas os residentes fixos, esta discrepância nos dados pode ser explicada pela alta rotatividade dos chamados trabalhadores temporários, que sozinhos ou acompanhados de suas famílias, se deslocam todos os anos de suas regiões de origem até São Gotardo, permanecendo aqui por um período de 6 a 9 meses do ano. E agora, entre os meses de outubro e novembro essas milhares de pessoas retornam à sua terra natal.

    Este ciclo permanente de idas e vindas não inclui todos os migrantes: parte deles fixaram residência aqui; de toda maneira, um e outro carrega consigo a natureza de 'retirantes', termo profundamente enraizado na história e na cultura do Brasil, especialmente no contexto nordestino. Ele se refere, de forma geral, à pessoa que abandona sua terra natal, motivada por condições adversas, como a seca, a fome e a miséria, em busca de melhores condições de vida em outras regiões.

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    Nesta reportagem inicial sobre os migrantes do Norte/Nordeste entrevistamos um dos primeiros 'retirantes' a chegar por aqui.

    Júlio Lira é natural da cidade de Tauá no estado do Ceará. Aos 15 anos de idade deixou casa e família em busca de oportunidades. “Morei na roça até os 15 anos, com meus pais. Em 1990 Saí Brasil afora vendendo rede. Meu pai não queria. A gente trabalhava, mas não tinha retorno, o que ganhava com o plantio do roçado mal dava para a subsistência. Toda a renda vinha do plantio. Quando chovia a colheita era boa, mas era uma terra muito seca. Não tinha água e nem emprego. Daí meu pai concordou e eu fui embora com uma malinha na mão e a roupa do corpo. Trabalhei como ambulante, vendia rede de descanso, imagem de santo, sapato, de um a tudo.” Lembra ele. Júlio fixou residência em São Gotardo, casou-se, tem uma filha que se forma neste final de ano em medicina. “Tenho muito orgulho de morar aqui.”

    Júlio chegou a São Gotardo em 1995, e testemunhou de perto a chegada de seus conterrâneos ao longo dos anos seguintes. “O nordestino é trabalhador, sangue quente, o mineiro é tranquilo e receptivo. Aqui é o melhor lugar do mundo para se morar. Não tive dificuldade de me adaptar. Conheço o Brasil quase todo e me adaptei muito bem aqui. O pessoal que vem é tudo trabalhador, vem atras do sustento, uma maneira de viver melhor, dar melhores condições para a família.” Conclui ele.

    Jornal conversa com a primeira migrante do norte

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    Em março de 2012 entrevistamos Dona Euclídia Viana, a primeira maranhense a chegar a São Gotardo. “cheguei em fevereiro de 1994. Como fui a primeira a chegar, foi uma novidade, ninguém sabia o que era um maranhense. Depois vieram meus filhos, e eles gostaram demais, e a notícia foi se espalhando. Aqui a gente ganhava dinheiro. Lá, eles trabalhavam o dia todo para ganhar R$20, R$25 reais por dia”

     

     

     

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